Dias da Música em Belém


DIAS DA MÚSICA 2008

O acontecimento da semana são os Dias da Música em Belém - CCB. À semelhança do ano passado o forte é a música clássica, mas há também Jazz. Se me é permitida a opinião, a minha aposta vai para três concertos:

- o imbatível Trio de Mário Laginha com Julian Arguelles: O melhor do Jazz nacional! (ibérico!)
- António Pinho Vargas e Zé Nogueira: o regresso dos guerreiros, ao Jazz, quem sabe... ou talvez não! Mas será sempre estimulante, por certo.
- Bernardo Sassetti + Will Holsouser Trio: o intenso melodismo de Sassetti Versus o folclore imaginário de Holhouser.

Mas pode ainda ver e ouvir Roby Lakatos, um violinista húngaro que mescla Jazz com música cigana húngara e Bela Bartok, dizem.
O Bernardo Sassetti Trio 2 «Ascent»; um duplo trio onde o piano é o vértice comum. Os trios são assumidamente um deles clássico e o outro Jazz e pretender-se-á a fusão das duas formas.
Scott Fields e Elliot Sharp são dois guitarristas diferentes. Navegam nas áreas ditas de vanguarda, mas Elliot Sharp tem tocado Monk e outras velharias de excepção e é capaz de tocar blues. Do que conheço de Scott Fields, ele é melhor compositor (elaborado, abstracto, amelódico) que improvisador. Só ouvendo.
O Sten Sandell/ Mattias Stahl - piano/ vibrafone - andará próximo do free e Wilbert de Joode/ Carlos Zíngaro/ Dominique Regef atira directamente para fora do Jazz, para as áreas das «novas músicas improvisadas».
O Will Holshouser trio, com Ron Horton e David Phillips pode ser qualquer coisa entre o free e a klezmer music ou as duas. E o Ron Horton é um trompetista de excepção. Sobre o trio, é ouvir.

Os Dias da Música em Belém começam já na próxima sexta-feira e terminam no Domingo.

Sex 18-Abr Lisboa
CCB (Grande Auditório)
23.30
Dias da Música
Sexteto de Roby Lakatos  
Sáb 19-Abr Lisboa
CCB (Peq.Auditório)
14.00
Bernardo Sassetti Trio 2 «Ascent» BS (p), Ajda Zupancic (vcelo), Jean-François Lezé (vib), Carlos Barreto (ctb), Alexandre Frazão (bat)
CCB (Sala Luis Freitas Branco)
18.00
António Pinho Vargas e Zé Nogueira APV (p), ZN (s)
CCB (Sala Luis Freitas Branco)
20.00
Scott Fields e Elliot Sharp SF (g-ac), ES (g-ac)
CCB (Sala Almada Negreiros)
22.00
Sten Sandell e Mattias Stahl SS (p), MS (vib)
CCB (Grande Auditório)
23.30
Bernardo Sassetti + Will Holsouser Trio WH (aco), Ron Horton (t), David Phillips (ctb), BS (p)
Dom 20-Abr Lisboa
CB (Sala Sofia Mello Breyner)
11.00
Wilbert de Joode , Carlos Zíngaro, Dominique Regef WdJ (ctb), CZ (v), DR (sanf)
CCB (Peq.Auditório)
15.00
Mário Laginha Trio + Julian Arguelles ML (p), Bernardo Moreira (ctb), Alexandre Frazão (bat) + Julien Argüelles (s)
CCB (Sala Almada Negreiros)
17.00
Will Holshouser, Ron Horton, David Phillips WH (aco), RH (t), DP (ctb)

Mais informação em

http://www.ccb.pt/


 

 

Os Dias da Música 2007 …

Uri Caine, Mário Laginha e Bernardo Sassetti estão entre os músicos que votei como tendo realizado alguns dos melhores trabalhos do ano passado. Têm em comum terem dedicado recentemente, embora de forma diferente, a sua atenção sobre a música clássica. Têm em comum também terem sido escolhidos para representar o Jazz nos Dias de Música em Belém, festival que substitui a Festa da Música, esta primeira edição dedicado ao instrumento piano.

Sobre o genial Uri Caine já escrevi de sobra nos tempos mais recentes (ver textos em Jazzologia). Será de referir apenas que, por se apresentar sozinho (quer dizer, a solo, sem o «ensemble» com que vem tocando Mozart), o seu repertório deverá recair sobretudo em sonatas e outras peças mais «intimistas», mas onde ele não deixará de se revelar menos empolgante. Para um dos dois concertos que fará no CCB, ele recebeu «carta branca».

«Carta Branca» tem Mário Laginha também nos dois concertos onde se apresentará a solo; ele que recentemente fez editar um trabalho (onde a transgressão é a regra, e que admito perfeitamente que nem sequer seja considerado um disco de Jazz, o que realmente não tem grande importância: ele não poderia existir sem o Jazz…) dedicado às fugas de Bach. O disco a que me refiro, Canções & Fugas foi votado pela crítica nacional em JazzLogical como o melhor disco de Jazz nacional.

Num outro concerto, Laginha e Bernardo Sassetti homenageiam – muito a propósito, na quase véspera do 25 de Abril - José Afonso.

Bernardo Sassetti que tem estado especialmente activo nos últimos anos, será porventura dos três o músico que mais próximo está dos autores que interpreta: Bach, Bartók e Mompou. Mas ele é realmente expressivo e criativo o suficiente para merecer ser visto e ouvido.

Uma das outras duas propostas «jazzísticas» é uma «intriga» para um actor e cinco músicos denominada «Era Uma Vez… Jazz». A peça que foi estreada há dois anos na Festa do Jazz (S. Luiz) relata – com pedagogia e humor - as andanças de um detective em busca do Jazz desaparecido.

Enfim, Clint Eastwood é um apaixonado do Jazz e do Blues. «Piano Blues» é a (excelente) sua contribuição para a colecção de DVDs dirigida por Martin Scorcese, de que falei recentemente.

Alguns outros pianistas ainda – Jorge Moyano, Miguel Henriques, Fazil Say e Fabrice Eulry – interpretarão peças de alguns autores ou géneros de alguma forma relacionados com o Jazz: George Gershwin, Scott Joplin, boogie woogie…

Os Dias da Música decorrem de 20 a 22 de Abril nas várias salas e auditórios do CCB.

Os Dias da Música … Clássica

Os Dias da Música é um festival de música clássica e melhor seria talvez que isso estivesse explícito logo no seu próprio nome para contornar equívocos. Não terá sido por acaso que foram exactamente estes três (entre a trintena de pianistas clássicos convocados) e não outros os músicos escolhidos; como disse três músicos de Jazz que dedicaram a sua atenção recente sobre a música clássica, aliás todos eles dotados de uma sólida formação clássica, e nenhum outro representante do piano Jazz mainstream. Mas um festival de música dedicado ao piano que ignore a longa linhagem dos pianistas de Jazz (do blues ao stride, do bebop ao hardbop, do free ao piano erudito moderno: posso fornecer rapidamente uma lista de umas dezenas de virtuosos capazes de fazer levantar a sala… mas o próprio CCB tem trazido alguns bons exemplos…), será inevitavelmente um festival limitado. A não ser, claro, que se declare um festival de música clássica. Daí a minha objecção ao nome. E haverá talvez uma ponta da proverbial arrogância dos «partidários» da música clássica, que apenas consideram a sua música digna desse nome. E que só convocam músicos exteriores à clássica se se referirem a si...

Claro que se poderá objectar que os Dias da Música são herdeiros da Festa da Música, também ele um festival de música … clássica; que nalguns dos concertos foi dada carta branca a Laginha e Uri Caine para tocar o que quiserem; que o festival passará ainda um filme dedicado ao piano blues (de Clint Eastwood) e Carlos Martins irá dirigir uma sugestiva peça denominada «Era uma vez … Jazz»…

Posto isto, e colocada a minha objecção, creio que a grandiloquência dos pianistas convocados será suficiente para fazer esquecer este «pecadilho de juventude» do festival.