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Estoril Jazz 2012

Coerente com uma linha clássica que marca o Estoril Jazz desde sempre, Duarte Mendonça programou para 2012 o mais jovem festival de sempre, sem largar mão dos seus princípios estéticos. Os nomes de Ambrose Akinmusire, Miguel Zenon ou Stefon Harris, músicos premiados internacionalmente, a par da «nossa» Orquestra Jazz de Matosinhos, eram por outro lado garantia de um elevado nível. Não assisti ao concerto de encerramento.

11- 20 Maio 2012

Ambrose Akinmusire

O festival arrancou com a estreia em Portugal do jovem Ambrose Akinmusire, uma estrela em fulgurante ascensão, e cujo disco «When The Heart Emerges Glistening» arrebatou literalmente todos os prémios da crítica.

Akinmusire é um trompetista fabuloso, com um controle do instrumento absoluto, versátil e intenso. Discípulo dos grandes trompetistas na senda de Dizzy e Clifford, ele prefere um som rasgado, mas possui toda a história do trompete nos dedos de que parece fazer por vezes uma síntese moderna, para apenas ocasionalmente revelar as suas fontes, onde estão surpreendentemente também Lester Bowie, Enrico Rava e Miles Davis. Apesar de não ter trazido para o Estoril a sua formação regular, prescindindo de um saxofonista e com um pianista diferente, a sua actuação não deixou de confirmar tudo o que se esperava dele.

Se o contrabaixo e bateria revelaram sempre uma comunhão empática com o trompete, as atenções estavam viradas para alguma hesitação do piano, menos familiarizado com o repertório do líder, que possui características muito próprias. Como referi numa crítica a «When The Heart Emerges Glistening», cada tema de Ambrose Akinmusire conta uma história, e a sua estrutura é sempre definida a partir daí. Não se trata de simples reinterpretação de standards, coisa que o trompetista sabe fazer (dois encores com que rematou o concerto, entre os quais um «Tenderly» delicioso), mas de temas concebidos de uma forma algo conceptual, que torna a sua música particularmente exigente.

Concerto descontraído, com as hesitações que referi, não deixou de justificar as expectativas, demonstrando na sua estreia em Portugal as razões da atenção.

 

Roberta Gambarini

Roberta Gambarini, a cantora seleccionada este ano para o Estoril Jazz, esteve abaixo do concerto a que tíonhamos assitido em Angra do Heroísmo há dois anos atrás, apresentando-se num registo mais (apropriadamente?) casino. Nunca esteve mal, pelo contrário, e a sua voz nunca vacilou como nesse outro concerto em Angra, mas a emoção («Every Breath I Take» ou «Estate», entremeada por «Lover Come Back To Me» ou «Multicoloured Blues» , esteve quase sempre ausente.

Banda assertiva, onde brilhou a velha raposa Kirk Lightsey no piano.

 

Orquestra Jazz de Matosinhos

São raras as presenças de músicos portugueses no Estoril Jazz, em grande medida porque Duarte Mendonça, o director do festival, considera haver poucos músicos portrugueses capazes de tocar o Jazz de tradição norte-americana. Mas em 2011 foi feito um convite a Mário Laginha, com a «indicação» expressa de tocar standards, e em 2012 Duarte Mendonça voltou a convidar músicos portugueses para o festival. Os escolhidos foram a Orquestra Jazz de Matosinhos, que tem trabalhado muito sobre os grandes clássicos.

A Orquestra apresentou-se no Estoril com o repertório da Vanguard Jazz Orchestra, com arranjos de Thad Jones, Bob Brookmeyer e o herdeiro da Thad Jones/ Mel Lewis Orchestra, Jim McNeely. «Groove March» de Thad Jones, «Up From The Skies» de Jimi Hendrix, arranjos de McNeely, «Skylark» e «Make Me Smile» de Brookmeyer, «All Of Me» de Thad Jones, e um emocionado final com «Pescaria» de Bernardo Sassetti, músico a quem a orquestra dedicou o concerto.

Conhecida pelos convites a Lee Konitz, Kurt Rosenwinkel ou outros monstros do Jazz, em cujos concertos a orquestra se remete amiúde a um mais ou menos discreto acompanhamento, e na ausência de «preiteados», coube aos membros da OJM a despesa dos solos. Brilharam José Luis Rego, Susana Santos Silva, José Pedro Coelho, Damien Cabaud, Mário Santos, Marcos Cavaleiro e Carlos Azevedo.

Som opulento, confirmando que esta é a melhor escola do Jazz possível; a recomendar urgentemente às iluminadas estrelas da «livre improvisação» nacional. Aqui aprende-se a tocar, e (importante) a ouvir!

 

Scott Hamilton UK Quartet c/Art Themen

Num festival onde a juventude esteve presente em força, Scott Hamilton e Art Themen foram os veteranos de serviço. Não se esperavam surpresas e surpresas não houve: os dois saxofonistas cumpriram, num concerto agradável demonstrando a vitalidade do velho Jazz.

 

Miguel Zenon

Momento alto do festival foi o concerto de Miguel Zenon, um dos jovens mais aclamados do Jazz actual.

Zenon começou com um longo medley de 30 minutos, naquela que foi a prestação mais «latina» que lhe ouvi. Porto-riquenho, Miguel Zenon tem explorado a música popular natal, num regresso às origens que vem acrescentando calor ao saxofone hard-bop que o caracterizava.

Há no entanto muito de erudição no seu saxofone na forma como recorta frases, repetindo-as ad nauseum inserindo-as de forma aparentemente desconexa na estrutura rítmica, ora acelerando ora retardando; ora inflectindo sobre um ou outro acorde, valorizando um ou outro elemento da composição, descontruindo e reconstruindo as melodias.

Miguel Zenon apresentou no Estoril a sua formação de eleição, o que contribuiu para o elevado nível do concerto: os músicos reagem empaticamente e mesmo os solos ou intervenções mais desconcertantes são instantanemente compreendidas pelo grupo. Zenon ainda tocou «Perdon», «Silencio» e «Juguete», do disco de 2011, «Alma Adentro», entre outros.

Zenon é um músico que se agiganta, e creio que muito haverá ainda a esperar dele.

Sex 11
Maio
Estoril Auditório Casino Estoril 21.30 Ambrose Akinmusire Quarteto
Ambrose Akinmusire (t), Sam Harris (p), Harish Ragavan (ctb), Justin Brown (bat)
Sáb 12 Maio 21.30

 Roberta Gambarini Quarteto

Roberta Gambarini (voz), Kirk Lightsey (p), Reggie Johnson (ctb), Mario Gonzi (bat)
Dom 13 Maio 19.00

OJM – Orquestra Jazz de Matosinhos

Pedro Guedes (dir), José Luís Rego (s), Mário Santos (s), João Pedro Brandão (s), José Pedro Coelho (s), Rui Teixeira (s), Gileno Santana (t), Susana Santos Silva (t), Rogério Ribeiro (t), José Silva (t), Daniel Dias (trb), Álvaro Pinto (trb), Andreia Santos (trb), Gonçalo Dias (trb), Carlos Azevedo (p), Demian Cabaud (ctb), Marcos Cavaleiro (bat)
Sex 18 Maio 21.30

Scott Hamilton UK Quarteto

Scott Hamilton (st), John Pierce (p), Dave Green (ctb), Steve Brown (bat) + Art Themen (st)
Sáb 19 Maio 21.30 Miguel Zenón Quarteto
Miguel Zenón (sa), Luis Perdomo (p), Hans Glawischnig (ctb), Henry Cole (bat)
Dom 20 Maio 19.00 Stefon Harris Quarteto
Stefon Harris (vib), Marc Cary (p), Burniss Travis (ctb), Terreon Gully (bat)

Antecipação

O Estoril Jazz 2012 abre sexta 11 com o quarteto do jovem Ambrose Akinmusire, músico que foi eleito pela crítica de Jazz nacional o músico do ano 2011 (ver votação em Jazz 6/4 e crítica de discos para When The Heart Emerges Glistening).

A programação conta ainda com, sábado, a voz quente de Roberta Gambarini e, completando a primeira semana, a celebrada Orquestra Jazz de Matosinhos.
Numa programação recheada de estrelas, na próxima semana brilhará Miguel Zenón, que rivalizará no virtuosismo com Stefon Harris, mas o swing estará provavelmente do lado do veterano Scott Hamilton.

A estrela maior sa segunda semana é o jovem saxofonista porto-riquenho Miguel Zenón, que rivaliza em mérito e reconhecimento com o trompetista Ambrose Akinmusire que na passada semana tocou no palco do Auditório Casino Estoril. Miguel Zenón vai apresentar-se no Estoril Jazz à frente de um quarteto de luxo onde pontua o pianista Luís Perdomo. Hans Glawischnig no contrabaixo e Henry Cole na bateria completam o grupo. Sábado 19. Recorde-se que Miguel Zenon fez, de acordo com a crítica de Jazz nacional, o melhor concerto do ano de 2008, aqui neste mesmo festival.

Mas o festival recomeça já na sexta com o grupo do veterano Scott Hamilton (58 anos!), um saxofonista que é reconhecido por uma sonoridade sofisticada, descendente dos grandes tenores da época de ouro do Jazz. Com ele, outro veterano, Art Themen! Promete-se uma noite de swing!

O Estoril Jazz (que este ano deverá ter a mais jovem composição de sempre, pouco acima dos 30 anos em média!!!!) completa-se - encerramento de luxo - no domingo (19 horas!) com outro jovem virtuoso, o vibrafonista Stefon Harris.

Em tempos de crise, esta é uma programação de luxo!