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Funchal Jazz 2022

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Interrompido devido à pandemia, o Funchal Jazz regressou em 2022 com uma programação imbatível, com algumas alterações no modelo: os concertos no Jardim de Santa Catarina foram reduzidos para dois dias, mas o festival ganhou um novo palco, no Parque Municipal, com seis concertos mais as provas de aptidão profissional (PAPs) dos alunos finalistas de Jazz do Conservatório do Funchal.

Eu tinha antecipado três grandes concertos internacionais, a partir do que conhecia dos músicos: nada mais que três estrelas maiores do Jazz contemporâneo; e se posso dizer algo é que os concertos superaram as minhas expectativas. Alguém comentava, no final da última noite, que os concertos tinham estado ao nível do Funchal Jazz de 2017; o que é verdadeiramente notável, atendendo a que nesse festival tocaram Bill Frisell, Charles Lloyd e Rudy Royston.

Parque de Santa Catarina

Cécile McLorin Salvant
Cécile McLorin Salvant é uma cantora extraordinária. Tendo-se feito notar ao ganhar o prémio Thelonious Monk International Jazz Competition em 2010, nos anos seguintes ela arrebatou todos os prémios da crítica e do público nas principais revistas da especialidade e da indústria. Mas se ela é discípula das grandes vozes do Jazz, ela está longe de ser mais uma cantora de standards. Na juventude ela começou por estudar piano clássico, mas acabou por estudar canto lírico em França, a par de outras formas vocais, entre as quais o canto Jazz. Ela possui uma enorme cultura musical, que começou em criança: "Eu tive a sorte de crescer numa casa onde ouvíamos todo o tipo de música. Ouvíamos música haitiana, hip hop, soul, jazz clássico, gospel e música cubana, para citar algumas. Quando se tem acesso a isso quando criança tem-se o mundo à frente”. Esta é a segunda vez a que assisto a um concerto de Cécile McLorin Salvant. A primeira foi em 2013, no Angra Jazz, e se ela me causou uma forte impressão na altura, apenas poderei dizer que ela cresceu. (E é lamentável que nenhum dos nossos sapientes promotores no continente tenha alguma vez ouvido falar dela, e que, ao invés, insistam em contratar subprodutos comerciais.)   

Essa diversidade de formas transparece nos seus discos. Em «Ghost Song», McLorin Salvant inspira-se na cultura popular norte-americana, nos standards ou no sean-nós irlandês, canta Kate Bush e Sting, Kurt Weill e Gregory Porter, toca piano utiliza a electrónica (na simulação de um órgão de tubos) ou instrumentos barrocos, a par de uma série de canções por ela escritas, intimistas e pungentes. «Ghost Song» é um álbum que só podia ser feito por uma cantora de Jazz, mesmo não é um disco de Jazz convencional. Cécile é uma cantora no sentido tradicional do que foram Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Bille Holiday ou Betty Carter, na forma como se expõe no palco e como a voz (e a poesia, as letras, lyrics) esclarece e dirime a abstracção da música e concentra em si, na emoção que lhe é própria, a atenção. Mas ela não é uma mera cantora de standards (mesmo se é capaz de o fazer); ela é a correspondente contemporânea das grandes vozes do Jazz.

Talvez que Cécile McLorin Salvant tenha facilitado um pouco no repertório que apresentou no Funchal, talvez atendendo ao espaço e ao público, não se cingindo ao mais denso de «Ghost Song». Cécile cantou “Over the Rainbow” (The Wizard of Oz), e “Fog” (do CD «For One to Love»), “Wild is Love” (Nat King Cole), “Pirate Jenny” e “The World Is Mean” (da «Ópera dos três vinténs», de Kurt Weill e Bertolt Brecht), “St. Louis Gal” (Bessie Smith, com a melhor prestação do discreto guitarrista, a revelar-se no bottleneck), e “Optimistic Voices/No Love Dying”, “Obligation” (vaziado da carga dolorida-sarcástica do original) e uma versão fascinante – adaptada para a apresentação ao vivo - de “Ghost Song”, não menos dramática.

Com a excepção para o brilhante pianista Sullivan Fortner, e a intervenção bluesy de Marvin Sewell, a banda esteve relativamente discreta, servindo a voz completa de McLorin Salvant (uma amplitude vocal e recursos ilimitados), com solos ocasionais assertivos. 
Cécile McLorin Salvant maravilhou e encantou o público (onde me incluo) e despediu-se do público em registo latino (mas, para minha infelicidade, não cantou “Wuthering Heights”).

Orquestra de Jazz do Funchal & Mário Laginha
Programada para a abertura do festival, cabia à jovem Orquestra de Jazz do Funchal a difícil tarefa de interpretar música de Mário Laginha, um repertório distante do que está habituada. Laginha admitia que as suas composições não estavam ao alcance de todos, e foi necessária uma semana inteira de trabalho e uma adaptação dos arranjos para a apresentação pública. Os temas escolhidos por Laginha foram bastante diversos, com arranjos para composições antigas do pianista – “Horn Please”, “Estiramantens” “Ribeira da Barca”, “Parrots and Lions”, “A Lua Partida ao Meio”, ou “Chorale n.º 2”, dos discos em nome próprio ou da dupla Laginha – Maria João, e ainda uma composição escrita para a Orquestra Jazz de Matosinhos, “Matosinhos”.

A orquestra, dirigida pelos irmãos Francisco e Alexandre Andrade, superou com distinção a prova de fogo, no que foi, também para Mário Laginha, de acordo com as suas palavras, uma feliz experiência. O momento mais alto do concerto esteve precisamente no que se diria mais exigente, “Matosinhos”, já no final. Para além de Laginha, um pianista sempre luminoso, os solos estiveram a cargo dos directores, Alexandre Andrade no trompete e o proficiente Francisco Andrade no saxofone. A vida não esteve facilitada para a cantora, Madalena Caldeira, mas ela resolveu com razoável acerto: “Parrots and Lions”, por exemplo, um clássico escrito para a voz (e o corpo) de Maria João é, por isso mesmo, irrecriável…; e ela ofereceu também a letra para a canção “Ribeira da Barca”, de Mário Laginha. 

Immanuel Wilkins Quartet
O segundo dia abriu com o quarteto de Immanuel Wilkins, num concerto arrebatador, e tudo o que escrevi na antecipação do concerto me pareceu curto. Ele não apenas possui todo o conhecimento do instrumento do ponto de vista técnico ou histórico, mas é um verdadeiro vulcão em palco. Quatro temas apenas, toda a história do Jazz – entre o passado e o futuro - em pouco mais de uma hora de concerto. Quatro composições retiradas do CD de 2022, «The 7th Hand», de inspiração bíblica, e que, à semelhança do que, por exemplo, John Coltrane fez, deriva numa catarse devastadora. Dramático, espiritual, intenso, caminhando (como convém: afinal trata-se de Jazz) sobre a linha instável que delimita a improvisação e a composição, o concerto foi elevando o nível de emoção até ao último momento, magnífico nesse atribulado de engenho (e modernidade composicional) e criatividade (do improviso).  

Uma última palavra para a banda (Rick Rosato em substituição de Daryl Johns no contrabaixo no disco): o mesmo nível instrumental, a mesma intensidade, empatia e coesão, improvisadores de elite, a mesma verdade do Jazz, inequívoco, sublime.

Joel Ross "Good Vibes"
Joel Ross encerrou o Funchal Jazz com a mesma intensidade emocional do concerto anterior, se bem que mais espiritual e menos telúrico (com excepção para algumas intervenções do saxofonista, e já lá vamos). O quarteto Good Vibes é um verdadeiro laboratório, revelado na forma como Ross parece hesitar entre o piano e o vibrafone, ou como um ou outro elemento da composição surge como espoleta para as explosões sonoras do saxofone, impelindo a secção rítmica que por sua vez impulsiona o quarteto. Mais bonito, diria, que o concerto de Immanuel Wilkins, inesperado na inteligência harmónica, na construção de canções – onde quase adivinhamos os poemas -, mas mais volúvel, irregular, talvez, na narrativa; surpreendente.  

Diria que (perdem-me a comparação com o concerto anterior) ele me surgiu algo menos equilibrado, também, em parte porque Ross se dividiu entre o vibrafone e o piano – e ele revelou-se um pianista mediano –, e também devido à presença de um saxofonista estratosférico, o voluptuoso, em todos os sentidos, Godwin Louis, que logrou ofuscar, com alguma injustiça, a baixista Kanoa Mendenhall e o superlativo Jeremy Dutton na bateria. Mas esta observação será pouco mais que pessoal, porque eu gostaria de ter ouvido mais vibrafone, e Joel Ross é um vibrafonista excepcional e, no cômputo geral, Joel Ross ofereceu-nos um memorável concerto. Good Vibes é um verdadeiro work in progress. Ficamos à espera do disco. Ansiosamente.  

 

Jardim Municipal do Funchal

Em boa verdade o festival tinha começado na segunda-feira anterior com dois concertos no Jardim Municipal do Funchal, num recuperado palco encimado de uma estrutura piramidal excêntrica. A acústica do espaço revelou-se, no entanto, muito boa, para o que terá contribuído o eficiente suporte técnico. Os concertos destes três primeiros dias no Jardim Municipal tiveram como líderes das bandas músicos madeirenses, tendo a quinta-feira sido reservada às provas de aptidão profissional (PAPs), numa colaboração com o Conservatório – Escola Profissional de Artes da Madeira.  
Os dois concertos de abertura foram protagonizados pelo quinteto do histórico professor e pianista madeirense Jorge Borges, a que se seguiu o Bruno Santos Almmond 3.

Jorge Borges "Meio Século à Volta do Jazz"
Jorge Borges apresentou «Meio Século à Volta do Jazz», gravado ao vivo no Teatro Baltazar Dias em 2020, e só agora editado devido à pandemia. Banda eficiente num repertório clássico, com Thelonious Monk em evidência. Monk é uma inspiração para Borges, que o estudou com fervor, como o concerto revelou, numa abordagem clássica, mas proficiente e sem mácula. Banda competente, com solos de todos os membros.

Bruno Santos Almmond 3
O Almmond 3 é um trio que explora a fórmula do organ trio, popular nos anos 50/60 do século passado, de expressão rara em Portugal. O jovem Hugo Lobo, o teclista, estava especialmente excitado pela oportunidade – estreia - de tocar um Hammond B3 genuíno (há muito que não se fabrica - este terá sido recuperado de um hotel já desaparecido), mesmo se não logrou tirar todo o partido da pedaleira que o caracteriza. Ainda assim o som que Hugo Lobo tirou dele foi fantástico. Música contagiante por um grupo despretensioso, com largo espaço para o virtuosismo do guitarrista, professor e líder da banda – o madeirense Bruno Santos - e a eficiência do baterista sérvio Nemanja Delic.  

Décio Abreu 4teto
A tarde do segundo dia do festival abriu com o quarteto de Décio Abreu, que exibiu uma música competente, com composições bem construídas e uma banda coesa.

Vânia Fernandes "Vânia Sings Ella"
Seguiu-se-lhe Vânia Fernandes, uma cantora popular que levou ao palco as canções popularizadas por Ella Fitzgerald. Vânia Fernandes possui uma voz poderosa e contagiante e uma presença de palco que revela experiência, e foi-lhe fácil cativar o público num repertório em que está à vontade. 

Quarteto Sofia Almeida
Outra cantora – a jovem Sofia Almeida – encantou no terceiro dia dos concertos madeirenses, com uma voz de grande amplitude num repertório mais alargado, sem grande espaço para a improvisação, mas eficiente e hábil.

Ricardo Dias 5teto
E o Jazz indiscutível do quinteto de Ricardo Dias completou a antecipação para os pratos de sustância do Funchal Jazz; convincente na forma e na execução, num grupo onde, inevitavelmente, esteve em evidência a estrela do saxofone Tomás Marques.

As PAPs de Tomás e Roberto
Não menos interessante foi a tarde de quinta-feira no Jardim Municipal, inteiramente dedicada à apresentação das PAPs dos seis alunos finalistas do Curso Profissional de Instrumentista de Jazz: Tomás Noronha, Matilde Agrela, Juliana Pacheco, Roberto Chulata, Carolina Ferreira e Daniel Correia. Impressionaram-me, em especial, dois saxofonistas, Tomás Noronha, com uma apresentação cuidada, e revelando uma técnica muito avançada e dotes de improvisador, e Roberto Chulata, um jovem com o som gordo e preguiçoso de Dexter Gordon, que foi aliás o tema da sua tese. Ou muito me engano, ou ainda vamos ouvir falar do Tomás e do Roberto.  

Dixieland, BD e Jazz, Workshops e jam sessions
Paralelamente aos concertos, um autocarro percorreu as ruas do Funchal na segunda-feira, com uma banda de dixieland, os Funchal Jazz Rythm Kings, e no mesmo dia foi inaugurada no magnífico espaço do hall do Teatro Baltazar Dias, a exposição O Jazz na BD; a mesma exposição que esteve patente no Hot Club de Portugal entre Setembro e Março últimos, com curadoria minha.      
O festival completou-se com três workshops e as inevitáveis jam sessions. Joel Ross encerrou o festival, já na tarde de domingo, com um workshop a que infelizmente não assisti, mestre Jorge Borges conduziu «20 Anos de Curso de Jazz no CEPAM», e «O Ritmo na Improvisação» foi o tema do workshop do professor Pedro Moreira.
Reduzidas às noites dos concertos principais, as jam sessions foram dirigidas por Nuno Ferreira, João Mortágua, Francisco Brito e Luís Candeias.  

Um festival emocinante
Uma semana de concertos, entre os quais três verdadeiramente memoráveis – Cecile McLorin Salvant, Immanuel Wilkins e Joel Ross (uma vez mais, é lamentável que os promotores de Jazz do continente nos privem do que de melhor se faz no Jazz contemporâneo), um novo espaço e uma ideia a alimentar – os concertos gratuitos das tardes no Jardim Municipal-; e diria que talvez haja espaço para algum Jazz menos consensual num espaço mais intimista. Mas enfim, se alguma coisa haverá a observar será talvez a redução de um dia nos concertos internacionais.
Público generoso e afluente: mais de dois mil entusiasmados assistentes por cada noite dos concertos do Jardim de Santa Catarina.  
E enfim, parabéns à Câmara do Funchal pela persistência na promoção da grande música Jazz, à eficiente produção, ao som, e à programação assertiva de Paulo Barbosa. E um agradecimento aos músicos, que tiveram a arte de me emocionar.
E aguarda-se ansiosamente pelo Funchal Jazz 2023.

Leonel Santos

( Leonel Santos esteve no Funchal Jazz a convite da Associação de Promoção da Madeira - APM - #visitmadeira )

(Todas as fotos por André Ferreira)

Seg 4 Funchal Yellow Bus 16.00 Funchal Jass Rhythm Kings André Almada (cornetim), Ricardo Sousa (trb), João Gonçalves (cl), Matias Pires (bj), João Alho (tu), Lucas Silva (bat)
Jardim Municipal 18.00 Jorge Borges 5teto Alexandre Andrade (t), Francisco Andrade (st, ss), Jorge Borges (p), Ricardo Dias (ctb), Jorge Maggiore (bat)
19.30 Bruno Santos Almmond 3 Bruno Santos (g), Hugo Lobo (hammond B3), Nemanja Delic (bat)
Ter 5 Funchal Jardim Municipal 18.00 Décio Abreu 4teto Francisco Andrade (st), Décio Abreu (g), Luís Filipe Gouveia (ctb), Caio Oliveira (bat)
Vânia Sings Ella Vânia Fernandes (voz), Adler Pereira (p), Vitor Anjo (g), Ricardo Dias (ctb), Diogo Andrade (per)
Qua 6 Funchal Jardim Municipal 18.00 Quarteto Sofia Almeida Sofia Almeida (voz), João Freches (p), Luís Filipe Gouveia (ctb), Luís Caldeira (bat)
Ricardo Dias 5teto Rafael Andrade (t), Tomás Marques (sa), Mateus Saldanha (g), Ricardo Dias (ctb), Francisco Gomes (bat)
Sex 8 Funchal Parque de Santa Catarina 20.00 Orquestra de Jazz do Funchal & Mário Laginha Mário Laginha (p, c, arranjos), Francisco Andrade (dir), Alexandre Andrade (dir)
21.30 Cécile McLorin Salvant Cécile McLorin Salvant (voz), Sullivan Fortner (p), Marvin Sewell (g), Paul Sikivie (ctb), Keita Ogawa (per)
Qasbah after
hours
jam session João Mortágua (sa), Nuno Ferreira (g), Francisco Brito (ctb), Luís Candeias (bat)
Sáb 9 Funchal Parque de Santa Catarina 20.00 Immanuel Wilkins Quartet Immanuel Wilkins (sa), Micah Thomas (p), Rick Rosato (ctb), Kweku Sumbry (bat)
Joel Ross
«Good Vibes»
Godwin Louis (sa), Joel Ross (vib, p), Kanoa Mendenhall (ctb), Jeremy Dutton (bat)
Qasbah after hours jam session João Mortágua (sa), Nuno Ferreira (g), Francisco Brito (ctb), Luís Candeias (bat)

 

Programador/ Director Artístico PAULO BARBOSA
Iniciativa CÂMARA MUNICIPAL DO FUNCHAL


Antecipação (3 de Julho de 2022)

FUNCHAL JAZZ

Funchal Jazz, que retoma depois de dois anos de pandemia, e que decorre de 4 a 9, no Jardim Municipal e no Parque de Santa Catarina, contará este ano com uma das melhores programações de sempre: três concertos internacionais e mais oito, reunindo músicos madeirenses e do continente.
Quanto aos concertos internacionais, os nomes são nada menos que três estrelas maiores do Jazz contemporâneo.
Cecile McLorin Salvant é a herdeira contemporânea das grandes cantoras de Jazz, mas um espírito inquieto que a tem levado a mergulhar em repertórios que em muito ultrapassam o que se espera de uma cantora de Jazz. No brilhante último disco, «Ghost Song», McLorin Salvant canta Kate Bush e Sting, Kurt Weill e Gregory Porter, inspira-se na folk irlandesa, americana ou no cinema, toca piano e canta a capella, utiliza a electrónica ou instrumentos antigos, e ainda nos oferece uma meia dúzia de originais, canções lindíssimas, pungentes e inspiradas. Sem preocupações de forma, naturalmente, como apenas os grandes músicos são capazes.
Nascidos na segunda metade dos anos 90, Immanuel Wilkins Joel Ross fazem parte daquela geração de músicos fantásticos que possuem todo o conhecimento possível do seu instrumento e do Jazz: «a tradição e o futuro num único solo»; perdoem-me se me cito para melhor expressar a forma como eles incorporaram a linguagem Jazz. Mas o que neles faz a diferença é que ambos são também já grandes compositores, com ideias e personalidade, e líderes. Muito justamente, e com acerto, eles vêm sendo aclamados e votados como alguns dos melhores músicos de Jazz da actualidade. Também em Portugal, a crítica de Jazz reunida em JazzLogical, tem sistematicamente votado, nos últimos anos, Immanuel Wilkins e Joel Ross (e Cecile McLorin Salvant), nas diversas categorias, como músico, músico revelação ou disco do ano.
Admito a minha expectativa muito alta, mas tudo me leva a crer que, à frente das suas bandas, o saxofonista Immanuel Wilkins, o vibrafonista Joel Ross e a cantora Cecile McLorin Salvant arriscam oferecer aos funchalenses os melhores concertos de Jazz nacionais do ano de 2022.
Mas os concertos do Parque de Santa Catarina arrancam com o pianista Mário Laginha à frente da Orquestra de Jazz do Funchal, que conta ainda com dois directores madeirenses: Francisco Andrade e Alexandre Andrade. Mário Laginha é uma das estrelas do jazz nacional, com presença assídua no Funchal Jazz, e esta encomenda do festival tem tudo para correr bem.
Mas o festival começa na segunda feira, já amanhã (4 de Julho), no Jardim Municipal do Funchal, com dois concertos, o Jorge Borges 5teto e o Bruno Santos Almmond 3. Mestre Jorge Borges, professor, pianista e compositor, irá apresentar o Meio Século à Volta do Jazz, pelas 18.00. O quinteto conta ainda com Alexandre Andrade, Francisco Andrade, Ricardo Dias e Jorge Maggiore. Segue-se o Almmond 3, um trio de órgão liderado pelo também madeirense Bruno Santos. O trio, que explora uma fórmula vintage, conta com o jovem virtuoso Hugo Lobo no Hammond B3, e ainda o baterista sérvio Nemanja Delic.
Na terça, a tarde está por conta dos Décio Abreu 4teto e Vânia Sings Ella. O guitarrista Décio Abreu lidera um quarteto onde também tocam Francisco Andrade, Luís Filipe Gouveia e Caio Oliveira; e o grupo de Vânia Fernandes que, como o nome sugere explora o repertório de Ella Fitzgerald, conta ainda com Adler Pereira, Vitor Anjo, Ricardo Dias e Diogo Andrade.
As sessões madeirenses completam-se na quarta com o Quarteto da cantora Sofia Almeida (com João Freches, Luís Filipe Gouveia e Luís Caldeira) e o Ricardo Dias 5teto, que conta com a estrela Tomás Marques no saxofone alto, para além de Mateus Saldanha, Ricardo Dias e Francisco Gomes.
Nas noites de sexta e sábado, depois dos concertos, after fours (reservado aos jazzólicos notívagos), o Funchal Jazz oferece ainda duas jam sessions no Qasbah, animadas por um quarteto com João Mortágua, Nuno Ferreira, Francisco Brito e Luís Candeias.
Ao longo do festival, e desde segunda feira, está ainda patente ao público, no Teatro Municipal Baltazar Dias, a exposição «O Jazz na BD», com curadoria deste vosso criado.

Funchal, Jardim Municipal
Seg 4 (18.00):
Jorge Borges 5teto
Bruno Santos Almmond 3

Ter 5 (18.00):
Décio Abreu 4teto
Vânia Sings Ella

Qua 6 (18.00):
Sofia Almeida (com João Freches, Luís Filipe Gouveia e Luís Caldeira) e o
Ricardo Dias 5teto


Funchal, Parque de Sta Catarina
Sex 8 (20.00):
Orquestra de Jazz do Funchal & Mário Laginha
Cécile McLorin Salvant
Sáb 9 (20.00)
Immanuel Wilkins Quartet
Joel Ross
 «Good Vibes»

Funchal, Qasbah
Sex 8 e sáb 9 (after hours)
jam session