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Funchal Jazz 2025
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Uma ideia de festival
Dez edições depois, o Funchal Jazz é hoje um festival consolidado. Esta é, recordemos, a segunda vida de um festival que teve uma primeira fase de catorze edições num modelo «fusão-world-montreux-grammys», que terminou em 2013. O modelo actual, que eu prefiro, tem uma programação inequivocamente Jazz, abrangente e moderna, e uma ideia de festival que, a meu ver, não existia.
A maior parte dos festivais acaba por ter um momento único ao longo do ano, em que leva ao palco músicos nacionais e/ ou internacionais, sem qualquer ligação à comunidade ou qualquer continuidade; mas alguns festivais procuraram de alguma forma sobrepujar-se ou estabelecer pontes. É o caso do Angra-Jazz, com a criação da Orquestra Angra-Jazz; o caso do Guimarães Jazz, com as workshops alargadas ou a ligação à Porta-Jazz e a Aveiro; o Matosinhos (a câmara: que tem hoje um festival menos interessante, mas tem o mérito de ter construído a mais importante orquestra de jazz nacional), e existem alguns outros exemplos mais titubeantes, mas ainda assim meritórios.
O caso do Funchal é muito interessante: o festival resume-se a uma semana no ano, mas é precedido de uma série de concertos nacionais, que dirigidos por músicos locais, dão aos madeirenses a ideia «do que é que os seus músicos andam a fazer». Bairrismo útil, diria.
Ao longo de 12 anos a actual direcção vem cimentando uma ligação do “festival internacional” (os concertos principais, no palco nobre do Jardim de Santa Catarina) com a comunidade jazzística local, músicos e conservatório (o Conservatório de Música da Madeira), e que tem tido ainda como pilar e produto a Orquestra de Jazz do Funchal.
Ainda, e no mesmo sentido vão as apresentações das PAPs (Provas de Aptidão Profissional do Curso Profissional de Instrumentista de Jazz do Conservatório) abertas, no mesmo palco do Jardim Municipal do Funchal; que têm tido uma entusiasmada presença do público.
As workshops têm tido também uma forte participação estudantil, mas não só, e este ano foram dirigidas por Maria Schneider, Jim Black, Perico Sambeat e o trio de Fred Hersch. Finalmente, as obrigatórias jam sessions decorreram em dois espaços diferentes, Jin Garden e Basalto; e tiveram a condução de um quarteto composto por Perico Sambeat, Juliana Mendonça, Nuno Ferreira e Luís Candeias. Uma banda de dixieland, os Funchal Jass Rhythm Kings, percorreu vários espaços da cidade nos dias que precederam o festival.
Enfim, uma última nota sobre a programação, que respeita à repetição de nomes: bastará um relance sobre as classificações que atribuí aos concertos, para concluir que os aplaudi com entusiasmo; e não tenho dúvidas que aqueles músicos mereceram o palco do Funchal Jazz. Apenas creio que, ainda assm, há uma repetição excessiva de alguns nomes.
Cheguei ao Funchal na quarta 9 e já falhei os Dracaena Draco (5 de Julho), os Bruno Santos & As Pérolas Do Atlântico e as PAPs, com tempo apenas para assistir aos concertos do Quinteto de Filipe Freitas e aos Bruno Ponte Benji'S Toolbox, previstos para o Jardim Municipal do Funchal.
Quinteto de Filipe Freitas
Veterano do Jazz madeirense, guitarrista, professor e compositor, Filipe Freitas apresentou-se à frente de um quinteto de pergaminhos estabelecidos.
Sete originais de Filipe Freitas, sete histórias, talvez não propriamente canções, mas histórias musicadas, contadas, que se vão desenrolando aos nossos olhos, paisagens em movimento; boas composições.
Creio que as composições, ou pelo menos algumas, terão sido escritas, ou terão tido como forma original, o trio, guitarra e secção rítmica, tendo evoluído para quinteto, e este ampliamento sentiu-se, a acrescer a algum nervosismo de primeira apresentação.
Muito curioso o segundo tema, «Polypheno», com um pouco da harmolodia de Ornette, e o seguinte, «Ossos e frutos», com uma introdução de trio sem bateria, de piano, guitarra e contrabaixo com arco, e que se desenvolve para quinteto, em crescendo, com um saxofone a fazer-se valer, pertinente, e uma bateria empolgada.
Um bom punhado de composições por um quinteto com muito para andar, assim as oportunidades surjam.
Bruno Ponte Benji'S Toolbox
O Benji'S Toolbox de Bruno Ponte é um projecto funky bem feito, com temas simples, onde a aposta se firma no groove e no virtuosismo dos músicos. A pecha do grupo reside na cantora, não tanto na voz, mas na forma taraioré aiuréurá que se esgota em si mesma e que quebra a energia da banda; de tal forma que, verdadeiramente, se nos afiguraram dois grupos distintos em palco.
Creio que Bruno Ponte deve repensar a colocação da voz no grupo, e o projecto merece algum investimento na composição.
E vou deixar a minha apreciação para outro dia.
O festival passou para o Parque de Santa Catarina na quinta-feira.
João Barradas Trio feat. Jonathan Kreisberg
O primeiro grupo em palco teve como líder um repetente, o jovem João Barradas, que se apresentou com o seu trio histórico, com Bruno Pedroso e André Rosinha, acrescido do guitarrista Jonathan Kreisberg como convidado, que contribuiu com metade das composições tocadas.
Foi um concerto tranquilo, com Kreisberg a adaptar-se perfeitamente à música do grupo, e um Barradas quase sempre acústico, como nos bons tempos. Duas excepções de nota foram o tema do acordeonista «Fragment», escrito, como ele referiu, para vocoder (um «sintetizador de voz» popularizado nos anos 60/ 70 por Joe Zawinul, Laurie Anderson, ou Herbie Hancock, entre inúmeros outros), e o que se lhe seguiu, com acordeão-midi, simulando por vezes o som de órgão.
A música do guitarrista é muito lírica, «Vagabundo», «Casa» ou mesmo o mais rápido «Relativo a Ti», imprimindo esse espírito ao concerto, e «Escada» parece falar de saudade, abandonando-se triste.
O «power trio» que popularizou o som de João Barradas ainda regressou a espaços no tema em midi (de que não retive o nome) e «Relativo a Ti», com que se despediram; e o público não lhe regateou aplausos.
Ambrose Akinmusire «Honey From a Winter Stone»
O concerto de Ambrose Akinmusire era o que me suscitava mais reservas, em parte porque a música do projecto «Honey From a Winter Stone» não é fácil, e em parte também pelo que lhe tinha assistido em Guimarães. Mas muito se terá passado desde Novembro, e o mais visível foi o desaparecimento da cantora/ teclista e a inclusão de um baixista, Reggie Washington. Claramente a cantora sempre foi um objecto estranho como, pelo contrário, o baixista ofereceu força e ritmo e convicção à música.
Creio que a apresentação de Guimarães terá sido uma das primeiras do disco, ao vivo, e o concerto terá por esse motivo sido penalizado, e claramente corrigido.
Porque o alinhamento dos temas foi o mesmo, e o mesmo do disco. É uma música «conceptual», onde a improvisação tem espaços muito definidos, com uma grande dose de escrita. É um projecto político, na linha do que têm feito muitos músicos da nova geração, sem quaisquer preocupações fundamentalistas Jazz, adoptando formas, conceitos, de outras músicas. O «Honey From a Winter Stone» cruza despudoradamente Jazz com um quarteto de câmara, funky, hip-hop e rap e spoken word e, corrigidos os erros, foi um grande concerto. É verdade que não nos foi possível compreender a mensagem política de «Honey From a Winter Stone», porque as vocalizações são naquele slang simpático inglês americano dos rappers, mas a música foi convincente. O rapper esteve mais solto e acertivo, o baixista revelou-se a âncora que faltava, secundando o incomparável Sam Harris, e, se os movimentos das cordas nos surgiram por vezes artificiais, talvez devido à nossa incompreensão da mensagem, eles resultaram em momentos muito bonitos. Finalmente o trompetista, tocou bastante mais. Ainda assim muito menos do que eu gostaria de ouvir, até porque ele é um instrumentista estratosférico.
Um grande concerto a fechar o primeiro dia do Funchal Jazz. E a noite continuou no Jin Garden.
Carlos Bica & Azul
A sexta-feira começou com o Carlos Bica & Azul, que fará trinta anos em 2026, e o concerto foi apropriadamente um périplo pelos velhos êxitos da banda, de «D.D. from B.» a «Lucky», e ainda o «11.11», composição do novo quarteto do contrabaixista, em dia de aniversário. Energia e melodia, um punhado de quase-canções que teimamos em trautear, um concerto de amigos que se conhecem desde sempre, bem disposto.
Uma história nonsense de um provador de cerveja contada com por Frank Mobus, desconcertante, em jeito de despedida.
Lakecia Benjamim
Tinha assistido há uns meses a um concerto de Lakecia em Lisboa e a sua apresentação no Funchal não constituiu, portanto, para mim, surpresa.
A saxofonista mudou a banda, músicos mais experimentados e mais sólidos, mas Lakecia não lhes dá muito espaço para brilhar. Foi, como esse outro concerto de Lisboa, um concerto de excessos.
Lakecia grita, literalmente. Ela não parece sequer ser capaz de falar normalmente, alternando entre vociferar as palavras ou dizê-las em forma de rap; e não há dúvida que possui uma dicção de uma clareza absoluta, em qualquer das formas. Fala de amor e paz, do respeito e da alegria que a América perdeu; brincando ainda assim, ao longo do concerto, com as palavras.
Não há pausas num concerto de Lakecia, ela nunca relaxa, nem mesmo no tema que se suporia mais melodioso do concerto, «My Favorite Things», numa homenagem explícita a John Coltrane, mas eu diria que a sua forma no saxofone é mais herdeira da velocidade de Charlie Parker ou dos percursores do saxofone pop acid-jazz dos anos 60, e ela faz aquela coisa que é prolongar os temas,
continuando a tocar mesmo quando o contrabaixo e o piano abandonam, e fica só ela e a bateria, ao despique, mais rápido, mais rápido, mais rápido, até que de alguma forma o saxofone parece cantar o «A Love Supreme», param, por um segundo, e o resto da secção rítmica regressa, emulando Tyner, Jones e Garrison (gostei do pianista, com um som latino, com o peso nos dedos de McCoy Tyner).
Não há originalidade no saxofonismo de Lakecia, mas ela é uma instrumentista versátil (e pragmática) e não se fixa num único estilo e mesmo me lembrou vários músicos ao longo do concerto: Parker e Coltrane, claro, mas também o Houston Person do acid Jazz, Abraham Burton na abordagem tenor ao alto e nas fugas sax e bateria, e mesmo Steve Coleman no último tema, frases curtas que se repetem e prolongam obsessivamente, o saxofone pop das bandas hip hop e o funky/ soul com que acabou o concerto.
Não há subtileza na música de Lakecia, e descobri que essa forma de tocar nos limites, e de gritar, com a voz ou no saxofone, por vezes gutural, irrita muita gente (e irritou muitos músicos); mas a minha apreciação é francamente positiva, pela energia esfuziante, pela versatilidade, e pela alegria. É espectáculo também, e ela fá-lo bem feito, nos limites, e poucos farão um concerto como ela.
E o público obrigou-a a regressar ao palco, mesmo apesar do adiantado da hora. E ela regressou, generosa, para tocar Stevie Wonder, sempre em cima, sem condescender na energia e na alegria; e a plateia de pé a aplaudir.
Fred Hersch Trio
O último dia do festival começou com outro repetente, o enciclopédico Fred Hersch, que veio ao Funchal apresentar o último disco, de 2025, editado pela ECM, «The Surrounding Green».
Repertório de originais e standards com alguma novidade, um tema de Egberto Gismonti, «Palhaço», um medley cruzando o «Lonely Woman» e «Law Years» de Ornette, uma visita ao Porgy & Bess e um momento Monk, um perfume a samba no tema de Hersch «Antecipation», e uma surpresa no encore com «Piano Man» de Billy Joel.
Trio imaculado, com o competente Jochen Rueckert a substituir Joey Baron que toca no disco, e Drew Gress, que acompanha o pianista desde há tempo, e que esteve sempre no centro de tudo, com subtileza e acuidade, e espaço.
Fred Hersch não trazia nenhuma novidade; ele é sempre igual a si mesmo, enciclopédico, inspirado, envolvente, insuperável.
Maria Schneider & Orquestra de Jazz do Funchal
Desde 2023 que o último concerto do Funchal Jazz está atribuído à Orquestra de Jazz do Funchal que, estimulada pelos desafios, tem crescido a passos de gigante. A comprovar que as tradições não passam de invenções, assim foi em 2022 com Mário Laginha, em 2023 com a direcção de Perico Sambeat, o ano passado com a música de André e Bruno Santos, e este ano com a música e a direcção de Maria Schneider.
Quanto maior é a exigência, maior o risco, e o desafio que o Funchal Jazz colocou à orquestra era de molde a causar verdadeira apreensão.
Por um lado a Orquestra de Jazz do Funchal, teve até há pouco uma existência formal e ocasional , e apenas depois de Laginha e Perico Sambeat se começou a pensar em estabilizar uma verdadeira orquestra. Mas uma orquestra é uma coisa cara e complicada, e em Portugal, em boa verdade, há apenas uma. O objectivo de o Funchal ter uma verdadeira orquestra, com trabalho regular, com repertório, com personalidade, o ano todo, para vinte músicos, e público, é apenas ainda um devaneio.
Por outro lado Maria Schneider é, apenas, a mais importante compositora-orquestradora de Jazz no activo (como a consideram o público e a crítica, como o comprovam as mais importantes votações internacionais).
Uma orquestra com cinco anos de vida, com problemas de volatilidade e insularidade, e uma maestrina legítima herdeira dos grandes mestres do Jazz; é disso que falamos.
Um complemento, já agora, à biografia de Maria Schneider. A orquestra de Maria Schneider viveu tempos gloriosos entre o final do século passado e o início deste. Mas a evolução da indústria, e o desaparecimento traumático de alguns dos seus membros históricos, entre os quais o amigo de sempre Frank Kimbrough, levou ao seu desmembramento. E desde há algum tempo que a maestrina tem vindo a trabalhar com diversas grandes formações, em encomendas ou trabalhos específicos, e ainda com jovens orquestras, sobre algumas das suas composições mais emblemáticas.
Foi o que aconteceu com o concerto do ano passado em Guimarães, que apresentou a orquestra andaluza Classijazz, e foi o que aconteceu agora com a Orquestra de Jazz do Funchal.
O concerto de encerramento do Funchal Jazz foi portanto também a conclusão de uma semana de trabalho árduo de duas dezenas de miúdos, como Maria Schneider repetiu com humor. As pautas tinham-lhes chegado há já algum tempo, e os últimos dias serviram para os músicos aprenderem o que não estava nas pautas. Todos os músicos eram unânimes no adquirido inesquecível daqueles dias, na informação desmedida que lhes tinha sido comunicada, no rigor, nos artifícios, no engenho, na inteligência, nos detalhes, na beleza daquela música.
O concerto percorreu a obra da compositora, entre os já clássicos Evanescence (1994) e Coming About (1996), e Data Lords (2020). Sete composições, sete investidas, sete viagens pela singular música de Maria Schneider. Singular também na forma como composição, orquestração e direcção, e também os solos, são uma mesma coisa, e singular também como a música que nós vivemos naqueles noventa minutos é irrepetível. Mas isso é o Jazz e é mesmo assim.
João Barradas, Perico Sambeat, Francisco Aguilar, Xavier Sousa, Bruno Ponte, Henrique Pinto, Tomás Noronha, Francisco Pestana, Emanuel Inácio, Ricardo Sousa, Alexandre Andrade, Henrique Pinto Francisco Coelho, José Diogo Martins, Francisco Andrade, e creio que não me esqueci de nenhum dos solistas, e toda a orquestra, e eles fizeram parte daquela música maravilhosa.
E assim se cumpriu o Funchal Jazz 2025
Todas as fotos por Carolina Santiago
Leonel Santos viajou com o apoio da Associação de Promoção da Madeira
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O festival, antecipação
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O Funchal Jazz já começou no passado sábado 5 com o sexteto Dracaena Draco e Bruno Santos & As Pérolas do Atlântico no domingo, inaugurando o festival no Jardim Municipal do Funchal. A iniciativa (os concertos no jardim) tem-se revelado acertada, oferecendo ao público do Funchal uma série de concertos de entrada livre, num espaço que se tem revelado espantosamente adequado. A começar por uma acústica insuspeitada, mas o antiteatro é também ele muito simpático.
Segunda e terça os concertos do Jardim prosseguiram com as Provas de Aptidão Profissional do Curso Profissional de Instrumentista de Jazz do Conservatório da Madeira (as PAPs), numa meritória colaboração Funchal Jazz/ Conservatório/ Câmara do Funchal.
Quarta (9, o dia em que escrevo estas linhas) terminam os concertos do Jardim com dois concertos ao fim da tarde: o Quinteto do (já) veterano Filipe Freitas, e o Bruno Ponte «Benji's Toolbox» que não sei o que seja, mas depois conto-vos.
O Festival Internacional começa na quinta-feira 8 no palco do Jardim de Santa Catarina
com o popular João Barradas e seu trio histórico (André Rosinha e Bruno Pedroso), acrescido do guitarrista Jonathan Kreisberg. Nova roupagem para a música do jovem virtuoso do acordeão João Barradas, um repetente do festival.
A noite prossegue com o ambicioso projecto do norte-americano Ambrose Akinmusire, «Honey from a Winter Stone». Ambrose Akinmusire é um trompetista verdadeiramente fabuloso, que se tem afirmado como compositor, em trabalhos com uma componente política e social muito forte, de que este projecto será exemplo. Radical, arriscado, audacioso, Akinmusire juntará no palco, ao seu quarteto, um rapper e um quarteto de cordas.
O segundo dia do festival abre com o Azul de Carlos Bica, um trio que está a fazer trinta anos. A singularidade dos primeiros tempos esvaneceu-se, mas a alegria da aventura não. Carlos Bica, Frank Mobus e Jim Black, um trio que junta um português, um norte-americano e um alemão, juntaram-se um dia num encontro a que não se adivinhavam consequências e hoje parece sempre ter existido. Como fizeram há trinta anos o trio reinventa-se a cada concerto, na alegria da música, feita de risco e de cumplicidade, e amizade também. E, apesar da proventa idade, não deixa de nos surpreender
A noite continua com uma das mais vulcânicas saxofonistas da actualidade, cantora e rapper também, verdadeira força da natureza, Lakecia Benjamin. Reproduzo aqui algumas linhas do que escrevi em Novembro do ano passado, a propósito do concerto da jovem saxofonista no Teatro da Trindade, em Lisboa:
A música de Lakecia é um Jazz contaminado pela música pop negra, e em particular a soul e o rap/ hip hop, e todas estas formas musicais estiveram presentes confluentemente, num Jazz híbrido que o disco não deixava adivinhar.
Ela revelou-se uma rap singer treinada, enquanto o muito jovem e fogoso baterista impulsionava a banda, e essa pop esteve lá, sempre no que é possível um músico (música, no caso) de Jazz fazer. E diria que o que faltou em subtileza na malha rítmica sobrou sempre em energia, mas não se entenda que estou a fazer algum tipo de crítica a Dorian Phelps; apenas aquela música exigia essa energia e ele tinha-a de sobra.
Da mesma forma a componente soul mais lânguida e dançável que atravessava Phoenix, o disco, foi sempre mais sugerida que explicitada, e alguns dos temas, mesmo reconhecíveis, foram tocados no fio da navalha...
Uma navalha contundente a fechar o segundo dia do Funchal Jazz.
Fred Hersch repisa o palco do Funchal Jazz; a última vez que cá esteve foi em 2016, também em trio, mas com John Hébert e Eric McPherson, e no sábado abrirá a noite com Drew Gress e Peter Erskine.
E, mesmo sendo verdade que a música é de Fred Hersch, ou ele é o líder, no Jazz as companhias contam sempre. Músicos experientes, Gress e Erskine deverão oferecer o brilho que o pianismo definitivo de Hersch merece.
Já o escrevi por diversas vezes: Fred Hersch é um pianista completo, com um conhecimento da história absoluto, que se revela na forma, por vezes como um camaleão, ou no universo temático. Elegante e engenhoso, ora anguloso ora mavioso, definitivo e urgente.
O festival encerra com o convite da Orquestra de Jazz do Funchal a Maria Schneider
Maria Schneider é uma das mais notáveis compositoras e arranjadoras do Jazz orquestral da actualidade. Popular também, ela junta os prémios, e o reconhecimento da crítica ao aplauso do público.
Herdeira do Jazz mais sofisticado de Gil Evans e Bob Brokmeyer, Maria Schneider fez de cada um dos seus trabalhos, desde Evanescence de 1994, a Data Lords de 2020, uma referência absoluta; tendo tocado por diversas vezes em Portugal.
Na última década Maria Schneider tem trabalhado um pouco por todo o lado com orquestras locais, e este é o maior desafio que a Orquestra de Jazz do Funchal já sofreu. As dificuldades começam no grau de exigência da música de Schneider, e continuam no nível dos solistas. Vamos ao Funchal ver.
Seis concertos internacionais com nomes de primeiro plano no luxuriante Parque de St. Catarina, mais quatro concertos e dois dias de PAPs no Jardim Municipal, concertos de rua pelos Funchal Jass Rhythm Kings, jam sessions ao longo dos dias do festival e ainda workshops por Maria Schneider, Fred Hersch, Jim Black e Perico Sambeat: apresenta-se o Funchal Jazz 2025.
4 de Julho de 2025
Leonel Santos
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Programador/ Director Artístico PAULO BARBOSA
Iniciativa CÂMARA MUNICIPAL DO FUNCHAL