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Impetuosa!

 

by Elizabeth Leitzell

 

 

AngraJazz 2024

Esta não foi a estreia de Lakecia Benjamin em Portugal, que eu creio ter sido no Jazz ao Centro ou Espinho, no ano passado. Estes dois concertos “desgarrados” em Braga (grnation) e Lisboa (Teatro da Trindade) foram uma oportunidade agarrada pelos promotores, fora das grandes salas, para quem o Jazz deixou de estar na moda. E apesar disso, um sucesso.

(E já agora, e confirmando que os promotores «não são do Jazz», em lado nenhum na promoção dos dois concertos era possível encontrar a formação da banda, mas apenas a saxofonista. Mas vão muito a tempo de aprender: Nos concertos de Jazz anuncia-se sempre também as formações.
E a propósito, por informação de Lakecia, eles foram Dorian Phelps na bateria, Elias Bailey no baixo e Mike Key no piano.)

Sobre o concerto de Braga, pouco sei; apenas que correu bem, bom de público, apesar da sala sem cadeiras e da acústica infernal do gnration. Mas do ponto de vista musical não deverá ter sido muito diferente do que ocorreu dois dias depois em Lisboa.

Do que lhe conheço dos discos e da internet eu podia adivinhar que este iria ser um concerto explosivo, mas verdadeiramente ela surpreendeu-me.

A música de Lakecia é um Jazz contaminado pela música pop negra, e em particular a soul e o rap/ hip hop, e todas estas formas musicais estiveram presentes confluentemente, num Jazz híbrido que o disco não deixava adivinhar.

Ela revelou-se uma rap singer treinada, enquanto o muito jovem e fogoso baterista impulsionava a banda, e essa pop esteve lá, sempre no que é possível um músico (música, no caso) de Jazz fazer. E diria que o que faltou em subtileza na malha rítmica sobrou sempre em energia, mas não se entenda que estou a fazer algum tipo de crítica a Dorian Phelps; apenas aquela música exigia essa energia e ele tinha-a de sobra. 

Da mesma forma a componente soul mais lânguida e dançável que atravessava Phoenix, o disco, foi sempre mais sugerida que explicitada, e alguns dos temas, mesmo reconhecíveis, foram tocados no fio da navalha, e uma navalha impetuosa. 

Elias Bailey no baixo e Mike Key no piano estiveram bem, completando uma banda que, se bem que esteja a servir a saxofonista (como um trio de piano, baixo e bateria servem a cantora), soube revelar-se autossuficiente quando foi necessário. Mas o vulcão Lakecia Benjamin raramente deixou.

Impetuosa, é o termo certo.

Teatro da Trindade, 5 de Novembro de 2024