Home

 

 

 

2015

À semelhança do ano passado o Seixal Jazz optou em 2015 por uma programação diversificada (com três programadores) no intuito de atingir públicos mais alargados. A fórmula retirará alguma personalidade ao festival, mas alguns concertos – o primeiro e o último – encheram a sala do Auditório Municipal. Como novidade, os concertos tiveram todos dois sets separados por um intervalo.

Paulus Schäfer
Já não me recordo de há quantos anos não vinha a Portugal um grupo de Jazz manouche, e eles existem em elevado número em França, mas um pouco por toda a Europa, nas fronteiras até, por vezes, do flamenco.
O Jazz manouche, cigano, de Django Reinhardt, popularizou-se em França antes da guerra e o Quintette de Jazz de Hot Club de France, com Django e Stephane Grappelli, foi a resposta francesa (e europeia) ao Jazz Hot que incendiava a América nos anos 30.
Não errarei se disser que existem milhares (ou mesmo dezenas de milhar) de excelentes guitarristas por essa Europa fora a tocar este género de música; uma boa parte da comunidade (das comunidades) cigana(s) adoptaram este género como o seu folclore. E como todos os folclores o género tende a ser explorado até aos seus limites, mas não evita (não pode, pela sua condição de folclore) a circularidade que o leva a fechar-se em si mesmo: a fórmula foi escrita há oitenta anos e não sofreu alteração de monta.
Paulus Schäfer, um ilustre desconhecido da comunidade cigana sinti e roma holandesa, apresentou-se no palco do Seixal Jazz à frente de um trio que contava com o sobrinho Noah Schafer (a cultura cigana valoriza a família e a sua música reflecte estes valores) em guitarra baixo acústica e Romino Grünholz na guitarra ritmo; três guitarras acústicas, à boa maneira manouche.
Música epidérmica, espectacular, que vive bastante do virtuosismo e da velocidade alucinante dos executantes, realizou um espectáculo alegre, que contagiou com facilidade a plateia. O protagonista principal era obviamente Paulus Schäfer, mas houve tempo para alguns momentos solo do jovem Noah e de Romino Grünholz e ainda um convite à participação de um jovem músico português.
Ao longo de quase duas horas o trio percorreu alguns clássicos do género, «How High The Moon», «Nouages», «Black Eyes», ainda «Summertime» ou «Minor Swing» e alguns originais, sem nunca fugir à fórmula.
Música feliz na sua essência, o Jazz manouche de Paulus Schafer venceu sem dificuldade.

Jerome Sabath
Depois de uma primeira parte prejudicado pelo desequilíbrio de som que quase apenas deixava ouvir a bateria, simplesmente apagando a guitarra e o saxofone, Jerome Sabath fez ouvir um jazz muito contido, diríamos canções (que poderíamos trautear), com um som de saxofone muito limpo, sem rugores, sublinhado pelo som aéreo da guitarra de Ben Monder. Música de alguma beleza, até onde podíamos perceber, conceptual, perturbada por um som de sala incompreensível, pouco enérgica, com boas ideias, mas algo dispersa e a que sempre pareceu faltar concretização.
Adiarei para melhores dias a minha opinião sobre a música de Jerome Sabath.

Carlos Bica & Azul
Quase a celebrar vinte anos de história, o Azul tem vindo a tocar com alguma regularidade, e nos últimos tempos tem até surgido a tocar em diversos festivais e salas nacionais.
Grupo atípico, não pela formação – contrabaixo-bateria-guitarra-, mas pela fusão que pratica, claramente contaminada pela pop music e alguma melancolia bem nacional, que vem assomando de forma insistente nos últimos tempos. Equilíbrio instável de personalidades bem distintas, o Azul tem sobrevivido muito para além do que seria previsível, em grande medida pelo génio instrumental de Frank Mobus e Jim Black, que oferecem às composições de Carlos Bica uma alegria e renovação que lhes vem prolongando a vida.
Feito enfim de velhas composições, o repertório é incapaz de errar: «Jolly Jumper», «Say A Wish», «Perfume», «Believer», «Canção n.º 2»... Mas diria que está no momento de Carlos Bica refrescar o repertório. Ele introduziu alguns arranjos interessantes nalguns temas, mas não conseguimos evitar uma sensação de déjà vu.
Mas enfim, o prazer de ver tocar aqueles músicos é incomensurável e este foi sem quaisquer dúvidas um dos grandes momentos do Seixal Jazz 2015.

Gary Bartz
Gary Bartz passou por Portugal por diversas vezes nos anos 70, e o seu estilo impulsivo deixou memórias e marcas. Alguma expectativa rodeava pois o seu concerto, o que se adivinhava pela sala cheia.
O concerto começou por padecer do mesmo mal do concerto de Jerome Sabath: um som desequilibrado que apagava o saxofone e o piano, mesmo se melhorou ao mesmo tempo que os músicos aqueciam também.
Banda um pouco desequilibrada, em grande medida devido ao pianista – excessivamente clássico, e a que faltava algum do peso nos dedos-, contrastando com o resto da banda; um contrabaixista muito duro, mesmo se fluente, e um baterista que é uma lenda, Greg Bandy, e que não deixou os créditos por mãos alheias: sem protagonismo, mas vigoroso, rigoroso, ao mesmo tempo que duro e suave como algodão, irrepreensível na marcação dos tempos.
Gary Bartz fez um concerto bem disposto, recorrendo a blues, fusão e alguns clássicos do Jazz, entre Wayne Shorter, Charlie Parker e Jackie McLean. Bartz toca alto e soprano, canta, dança, com alguns pequenos truques de quem já anda nisto há muitos anos, transformando pequenas «insuficiências» (a idade não perdoa) em trunfos.
A generosidade do grande Jazz!

 

Sex 16 Seixal Auditório Municipal 22.00 Paulus Schäfer Trio Paulus Schäfer (g), Romino Grünholz (g), Noah Schafer (ctb)
Sáb 17 22.00 Carlos Bica & Azul Carlos Bica (ctb), Frank Möbus (g), Jim Black (bat)
Qua 21 15.00 A Escola Vai ao SeixalJazz Gonçalo Marques (t), César Cardoso (s), Ana Araújo (p), João Hasselberg (ctb), João Rijo (bat)
Qui 22 22.00 Jerome Sabbagh New York Quartet Jerome Sabbagh (st), Ben Monder (g), Joe Martin (ctb), Mark Ferber (bat)
Sex 23 22.00 Rodrigo Amado Motion Trio + Rodrigo Pinheiro Rodrigo Amado (s), Gabriel Ferrandini (bat), Miguel Mira (celo), Rodrigo Pinheiro (p)
Sáb 24 22.00 Gary Bartz Quartet Gary Bartz (sa, ss, cl), Barney McAll (p), James King (ctb), Greg Bandy (bat)