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Seixal Jazz 2025
SEIXAL JAZZ (1)
O Seixal Jazz regressa hoje, dando início à sua 26-ª edição.
E da melhor forma, diríamos, assinalando a era das mulheres no Jazz, com o quinteto Artemis, a que se seguirão, entre outros, o pianista Fred Hersh, o saxofonista James Brandon Lewis ou Carlos Bica, vencedor do prémio para o disco do ano de 2024. Em paralelo decorrem os concertos do Seixal Jazz Clube, que este ano regressa à Mundet, em concertos de entrada livre, com Maria Carvalho, Hugo Lobo, António Carvalho e outros.
Artemis
A música não tem género, e se o Artemis carrega consigo o peso da feminilidade – simbólica - porque, do ponto de vista musical, o que se espera do concerto do Artemis é nada menos que um grande concerto. O Artemis é um quinteto dirigido pela pianista Renee Rosnes, uma compositora e líder com uma já longa carreira; outra veterana, a trompetista Ingrid Jensen, que nós conhecemos principalmente como instrumentista, e que está em muito grande forma; Allison Miller, uma baterista que desmente a ficção que as mulheres não têm a força necessária para o Jazz - vigor e velocidade não faltarão no Seixal; a jovem Nicole Glover, mais do que competente, a crescer muito rapidamente; e a baixista Noriko Ueda - a tradição do contrabaixo japonês, no feminino.
Importante para mim é não apenas o facto de serem mulheres, mas serem todas elas instrumentistas de excepção e improvisadoras, mas também compositoras e líderes do seus próprios projectos. O Artemis tem três discos editados, mas nenhum lhes faz justiça: ao vivo, sem o espartilho dos cinco minutos por composição, as improvisadoras soltam-se.
Um grande momento de Jazz em expectativa para a abertura do Seixal Jazz.
Fred Hersch
O segundo concerto do festival leva ao palco Fred Hersch, um pianista bem conhecido do público português, um músico que tem toda a história do piano Jazz nos dedos, e que a usa sem parcimónia. O concerto do Seixal tem uma particularidade: Fred Hersch vem tocar a solo, o que, não sendo uma novidade, não é a sua forma predilecta, ou pelo menos não é a sua forma mais habitual. Creio que as últimas vezes que Fred Hersch tocou em Portugal foram sempre em trio, e esta forma pode oferecer-lhe intimismo; ele que é um pianista intimista (não se confunda com silencioso ou parco em notas) por natureza.
Espero um concerto muito bonito.
Carlos Bica Quarteto
A semana completa-se com o quarteto de Carlos Bica, com o projecto que arrebatou os aplausos generalizados da crítica nacional, incluindo o do disco do ano de 2024 de JazzLogical.
«11:11», de seu nome, é tocado por uma formação atípica, de contrabaixo, vibrafone, guitarra e saxofone, com Bica, José Soares, Eduardo Cardinho e Gonçalo Neto.
Composições de Carlos Bica, o universo muito peculiar do contrabaixista, a fechar a primeira semana do Seixal Jazz.
Seixal Jazz Clube
A par dos concertos na sala principal do Auditório Municipal, o Seixal Jazz recuperou as instalações da Mundet, para passou este ano o Seixal Jazz Club, com concertos a partir das 23.00.
Os concertos são, na quinta 9, o Paira, um grupo que editou em 2024 o primeiro disco na Porta-Jazz;
os Godua, com um disco editado, também, Stop;
e o trio de Maria Carvalho uma baterista singular, que se estreou no ano passado com um disco de homenagem a José Mário Branco. A jovem Maria Carvalho, que juntou as suas qualidades de baterista à composição e liderança, apresenta-se no Seixal com uma nova formação, num trio de bateria, guitarra e contrabaixo.
O Seixal Jazz continua na próxima semana.
9 Outubro 2025
SEIXAL JAZZ 2.ª semana
James Brandon Lewis
O Seixal Jazz entra na segunda semana com James Brandon Lewis, um dos mais importantes músicos da actual cena de Jazz internacional.
Com 42 anos de idade, o nome de James Brandon Lewis explodiu com estrondo no seio do Jazz, logo após os primeiros discos.
Os seus interesses foram num início os gospel, antes do Jazz chamar a sua atenção, mas esse chamamento nunca esmoreceu, como o revela, por exemplo «For Mahalia, with Love», de 2023, um disco de espirituais dedicado à memória de Mahalia Jackson.
A chegar aos vinte discos editados em quinze anos, a música de Brandon Lewis já não tem nada a provar. Ela combina espiritualidade, política, gospel e a música pop negra: o rap e o funk, jazz e free-Jazz; numa mescla que radica na tradição musical negra norte-americana, e que nas suas mãos se revela definitiva.
Muitos compositores «compõem projectos» antes de fazer música, e muitos outros demandam a vanguarda ou apenas «ser diferente», mas a música de James Brandon Lewis parece ter sempre existido; naturalidade e eternidade.
E diria que na procura da espiritualidade, há uma figura que sempre esteve presente e que é John Coltrane: Trane é, seis décadas depois, o passado, o presente e o futuro do mais consistente do Jazz contemporâneo; como o parece dizer o disco que Brandon Lewis deverá tocar no Seixal, «Abstraction Is Deliverance», com Aruán Ortiz, Brad Jones e Chad Taylor, piano, contrabaixo e bateria.
Contundente e bela, portentosa e mística, perene e crua, a música de James Brandon Lewis, que iremos ouvir no Seixal Jazz.
Quinta, 16, às 22.00
Yazz Ahmed
O festival prossegue na sexta (17) com a britânica-bareinita Yazz Ahmed, uma trompetista que procura combinar o Jazz com a música árabe (de que, de forma diferente, fazem Rabih Abou-Khalil ou Ibrahim Maalouf). Yazz Ahmed usa, além do trompete e do fliscorne, a electrónica, numa simbiose que tem sido descrita como world, ambiente, psicadélica, moderna, irreverente, «jazz árabe». A ouvir, para lá do que os discos revelam.
Tyn Wybenga Brainteaser Ensemble
No sábado (18) toca o Brainteaser Ensemble, uma encomenda nacional ao compositor neerlandês Tyn Wybenga que dirigirá o ensemble. O Brainteaser Ensemble é composto de oito músicos nacionais. Os discos de Tyn Wybenga não dizem muito, e são muito desiguais e, da consistência do projecto, o melhor é mesmo ir ouvir.
Seixal Jazz Club
A par dos concertos na sala principal do Auditório Municipal, continuam os concertos do Seixal Jazz Club na Mundet, com concertos a partir das 23.00.
Os concertos são, na quinta 16, o António Carvalho Quinteto, um grupo que já este ano editou «Vago» na Robalo Music;
O trio do proficiente e jovem pianista Hugo Lobo, na sexta 17;
O Marta Rodrigues Quinteto, da cantora que editou para a Robalo «Inscape».
15 Outubro 2025