Ambrose
Akinmusire
The Imagined Savior Is
Far Easier to Paint
CD
Blue Note 2014
The Imagined Savior Is Far Easier to Paint é, como o anterior disco de Ambrose Akinmusire, When the Heart Emerges Glistening, um disco de canções, ou melhor, de histórias. Cada composição conta uma história, com arranjos e interpretações diferentes, partindo mesmo dos instrumentos e dos músicos. Tendo como base o quinteto, que ele vem afinando ou acrescentando, o trompetista escolhe utilizar apenas o trompete e um piano, substituir o saxofone pela guitarra, introduzir um quarteto de câmara, ou diferentes vozes, cujas personalidades emprestarão aos temas ambiências e personalidades diferentes.
Cada tema impõe a Akinmusire um tratamento diferenciado. Diferentemente do que conhecemos do Jazz, o tema (o motivo, não o chorus), precede a composição, e determina-o.
O interessante é ver como, apesar da diversidade nas interpretações, o disco possui uma enorme unidade e consistência. Dir-se-ia por vezes um disco de pop «culta», de canção de autor, ou indie, com o Jazz e o quarteto de cordas de câmara a questionar os géneros; e diria que, de facto, The Imagined Savior Is Far Easier to Paint estilhaça os géneros; para além do Jazz, da música contemporânea ou da pop. Ao vivo, o quinteto de Ambrose Akinmusire pode apresentar-se mais propriamente (ou mimetizar-se?) como um grupo de Jazz convencional – até no recurso à estrutura convencional «tema – solo - tema»; mas o disco está bem para além disso.
The Imagined Savior Is Far Easier to Paint é tudo menos um disco de Jazz convencional, como o era já o anterior, de 2011. Não existem materiais proibidos para Ambrose Akinmusire, que utiliza com despudor o Jazz, a pop ou a música clássica; mas também a poesia ou a intervenção social. E diríamos que esta latitude que se espraia entre géneros musicais e formas artísticas; esta, diríamos, multidisciplinaridade agressiva, interfere de forma aguda com os sentidos do auditor, levando-o a imaginar paisagens - e poucas músicas serão tão generosamente visuais - e a experimentar sensações, provocando e excitando emoções.
Enfim, já toda a gente disse: Ambrose Akinmusire é o mais extraordinário trompetista que já existiu ao cimo da Terra. O controle de som do trompete é verdadeiramente assombroso, e o conhecimento que possui da História da Música e do Jazz, da Arte da Improvisação e da História do Trompete, são inigualáveis. E enfim, o grupo, os músicos que tocam neste disco fazem parte todos dessa nova geração de músicos, insuperáveis na mestria dos seus instrumentos.
Se o anterior, When the Heart Emerges Glistening, se impôs no panorama Jazz como um tornado, este novo The Imagined Savior Is Far Easier to Paint veio confirmar Ambrose Akinmusire como um compositor genial e um dos grandes músicos de Jazz do início do século.
A modernidade, e para lá do Jazz, está do lado dele.
Ambrose Akinmusire (t, tec)
Walter Smith (st)
Sam Harris (p, tec)
Harish Raghavan (b)
Justin Brown (bat)
+
Charles Altura (g)
Becca Stevens (voz)
Elena Penderhughes (f)
Theo Bleckmann (voz, efeitos)
Al Spx (voz)
Muna Blake (voz de criança)
+
Osso
String Quartet:
Maria
Im (v)
Brooke Quiggens Saulnier (v)
Kallie Ciechomsky (viola)
Maria Bella Jeffers (celo)