Desidério Lázaro
Samsara
CD Sintoma Records 2012

Desidério Lázaro (st, ss)
Afonso Pais (g)
João Firmino (g)
Francisco Brito (ctb)
Joel Silva (bat)

Samsara, o novo disco de Desidério Lázaro, é basicamente o oposto do primeiro, Rotina Impermanente (JACC). A começar pela formação, este é um disco de um quinteto, com duas guitarras, enquanto a estreia de 2010 se «resumia» a um trio sem instrumento harmónico. Observei na altura algures que Rotina Impertinente era um desafio enorme para a estreia do jovem músico. O risco que um trio sem piano ou guitarra sempre coloca reside por um lado na maior exposição do solista, mas também no esforço adicional que lhe é colocado para superar a ausência da guitarra ou do piano, e por outro lado no próprio preenchimento do espaço sonoro. Sonny Rollins é a referência mais citada quando se fala de trios de saxofone, mas obviamente Desidério Lázaro não possui o volume de som (ou a musicalidade) do gigante Rollins, e não foi essa a sua opção. Creio que Lázaro teve como modelo o saxofonismo mais cerebral de um Mark Turner (no Fly Trio), mesmo se ele se revelou também um saxofonista pujante: ainda que a aposta tenha sido apenas parcialmente ganha, Rotina Impermanente acabou por ser uma estreia convincente.
Enfim, Samsara é claramente outra coisa e, como referi, a começar pela presença das guitarras de Afonso Pais e João Firmino. Samsara é um disco muito menos «duro» que o anterior, mercê das combinações harmónicas dos três solistas, mas também pela opção mais funky, diríamos por vezes dançável, que o disco anterior. As guitarras e os saxofones (tenor e soprano) combinam-se ou desafiam-se nos solos de forma bastante agradável.
Desidério Lázaro, um dos mais sólidos saxofonistas da nova geração, é em Samsara melódico, enérgico e ecléctico. Samsara, o tema, algo místico como o nome sugere, é uma espécie de hino sereno à vida e à alegria que marcam todo o disco, mesmo nos momentos mais funky.
Equilibrado e despretensioso, Samsara confirma Desidério Lázaro também como líder, à frente de uma banda de solistas generosos, Pais e Firmino, mas também uma secção rítmica onde pontua a bateria sem mácula de Joel Silva, e ainda a surpresa do seguro contrabaixo de Francisco Brito.
Sem envolvimento de escrita de monta, entre o acid jazz e o rock, entre a pop e o Jazz, sem quaisquer preocupações de novidade ou exploração, Samsara é o tipo de disco que ganha na apresentação ao vivo.
Samsara marca também a estreia de uma nova editora indepente, a Sintoma Records, criada por músicos, que pretende dar resposta à necessidade dos artistas verem os seus trabalhos editados sem intermediários.