João Lencastre's
Communion
Sound It Out
CD
TOAP 2010
Joao Lencastre (bat)
David Binney (sa)
Ben VanGelder (sa)
Phil Grenadier (t)
André Matos (g)
Jacob Sacks (p)
Thomas Morgan (b)
Terceiro disco de João Lencastre
na primeira pessoa, Sound It Out confirma-o como um dos nomes
mais interessantes da cena Jazz nacional. Se como instrumentista
ele se revela ecléctico e seguro, capaz de uma batida mais dura no tema
dos Coldplay “God Put a Smile Upon Your Face” ou swingando em “Happy
House” de Ornette, é principalmente como líder que
ele se impõe.
A escolha dos temas – que vai dos já referidos pop dos Cold Play
e harmolódico Ornette, ao atípico “Oaxaca” do atípico
Daniel Lanois, uma balada de Joe Zawinul, “Early Minor”, “Be
My Love” um êxito da Broadway dos anos 50 interpretado pelo popular
cantor de ópera Mário Lanza, e ainda três temas da sua
autoria e um curtíssimo do colectivo dos Communion, são expressivos
da sageza da direcção e o menos que se poderá dizer é que
João Lencastre revela uma cultura musical invulgar. Mas a escolha diversificada
de universos, que escapam bastante ao mais tradicional do Jazz, é acompanhada
por uma gestão eficaz dos convocados para os Communion, que têm
como núcleo duro Lencastre, o seguro Thomas Morgan no baixo, o incisivo
Jacob Sacks no piano e Rhodes e Phil Grenadier no trompete. Se Jacob Sacks
(embora não tão regular quanto eu gostaria) se revela de valia
inestimável na substituição de Leo Genovese ou do insubstituível
Bill Carrothers dos Communion anteriores, é necessário referir
a presença da guitarra modernista de André Matos, no seu melhor.
O sólido trompete de Grenadier tem em Sound it Out uma
presença
constante e os saxofones – mais sóbrio - de Van Gelder e - mais
generoso - Binney alternam sabiamente, mais uma vez demonstrando a inteligência
da gestão de Lencastre.
As interpretações dos temas alheios revelam arranjos colectivos
muito curiosos, entre o mais desbragado do tema dos Coldplay e o lentíssimo
e belíssimo “Be My Love” com que o disco termina, genialmente
executado (apenas) pelo piano e contrabaixo. Diria que o facto de a maior parte
dos temas de Sound It Out, serem – sem complexos - alheios à banda
(e ao Jazz), a par do tratamento criativo (que rompe com o mais vulgar tratamento
supostamente jazzy da maioria dos discos Jazz nacionais) que lhes foi oferecido,
são reveladores da maturidade e inteligência do autor. Enfim,
os originais de Lencastre, e em especial “Sound on It” que dá o
nome ao disco e “O Aperto” – o melhor tema do álbum,
com um Jacob Sacks brilhante e um Grenadier insuspeitado de expressão
-, revelam um engenho invulgar de composição.
Sem pontos fracos, Sound It Out é um dos grandes discos do ano.