Kurt
Rosenwinkel and
Orquestra Jazz de Matosinhos
Our Secret World
CD Wommmusic 2010
Kurt Rosenwinkel (g)
+
OJM:
Carlos
Azevedo (dir, arr, p), Pedro Guedes (dir, arr), Ohad Talmor (arr), João Mortágua (sa, ss), João Pedro Brandão (sa, cl, ss, f), Mário Santos (st, cl), José Pedro Coelho (st, f), |
Rui Teixeira (sb, clb), José Luis Rego (sa, ss, cl), Nuno Pinto (cl)Nick Marchione (t), Erick Poirrier (t), Susana Santos Silva (t, flis), Rogério Ribeiro (t), José Silva (t), |
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Assisti à estreia ao vivo
da colaboração Kurt Rosenwinkel – Orquestra Jazz de Matosinhos,
no Oeiras Jazz de há dois anos. Na altura não tive dúvidas
em considerá-lo um dos grandes concertos do ano e, não tenho
dúvidas agora, na audição do disco, em classificar
Our Secret World como um dos grandes discos do ano de 2010.
Nascida em1999, a Orquestra Jazz de Matosinhos, a mais activa das orquestras
de Jazz nacionais, tem-se evidenciado pela colaboração com
alguns distintíssimos músicos de Jazz internacionais. Foi
o caso notável
de Lee Konitz, mas também Ohad Talmor, Chris Cheek, Jim McNeely,
Mark Turner, ou ainda Maria Schneider e Carla Bley que a dirigiram, e agora
Kurt
Rosenwinkel. Esta colaboração revestiu formas diferentes:
neste caso a orquestra solicitou ao guitarrista sete temas que foram registados
em
The Secret World, tendo como solista o mesmo Rosenwinkel. Os arranjos estiveram
a cargo de Carlos Azevedo, quatro, Pedro Guedes, um, e Ohad Talmor dois.
Com 40 anos de idade, Kurt Rosenwinkel é um dos mais
apreciados guitarristas de Jazz da actualidade, possuidor de um estilo pouco
anguloso, lírico
e fluente - que descende tanto dos clássicos do Jazz como da guitarra
rock -, e um monstro de técnica e de inspiração. Por
outro lado, ao longo dos tempos – 20 anos e uma dezena de discos
na primeira pessoa – ele foi construindo também uma sólida
reputação
como compositor, preferindo temas seus para o repertório. O que
Carlos Azevedo, Pedro Guedes e Ohad Talmor foram capazes de notar como
ninguém
antes foi a dimensão orquestral que realmente já estava na
escrita de Rosenwinkel, mas nem sempre era óbvia. Por outro lado,
se ao longo de todo este Our Secret World a guitarra de Rosenwinkel está sempre
em evidência, é absolutamente admirável a forma como
os arranjos foram construídos, no respeito pelo solista, igualmente
pelo espírito das melodias, e na absoluta integração
destes elementos – o estilo solístico da guitarra e das composições
- na forma orquestral.
Depois, a execução da orquestra é absolutamente irrepreensível,
como se ela fosse a forma natural da escrita do guitarrista. É-me
difícil
evidenciar um ou outro tema, mas talvez que o arranjo mais ousado pertença
a "Path of the Heart" de Pedro Guedes, com momentos de erudição
que remetem para o exterior do Jazz, enquanto Ohad Talmor, que conhece
a orquestra bem de colaborações anteriores, é eficaz
e inspirado, e Carlos Azevedo, mais equilibrado e empático com Kurt
Rosenwinkel, tem soluções absolutamente sublimes em "Dream
of The Old" ou "Use of Light". Pessoalmente apenas gostaria de ter ouvido
neste disco uma maior
participação nacional no que respeita aos solos,
resumidos a uma curta intervenção de um dos tenores em "Turns",
mas não
tenho dúvidas que esta é uma opção deliberada.
Para o ouvido exterior, a guitarra sempre fez parte da orquestra e a orquestra
sempre foi o oceano onde a guitarra mergulhou: sente-se a empatia e o entrosamento
dos dois lados como se fosse apenas um. Ou melhor dizendo, não se sente
que existam uma orquestra e um solista, mas apenas um todo, já que os
solos surgem sempre como naturais e o tutti orquestral abraça os solos
em engenhosos movimentos e combinações tímbricas absolutamente óbvios.
Observei a propósito do concerto de Oeiras que referi no início
do texto, a satisfação de Rosenwinkel, da orquestra e do público
no final de um concerto em que os músicos não tinham tido tempo
para os ensaios, numa obra de imensa complexidade. O disco que saiu deste projecto,
da colaboração de Kurt Rosenwinkel e da Orquestra
Jazz de Matosinhos,
eleva a música de Rosenwinkel – e da OJM - a um nível insuspeitado.
Our Secret World é um dos momentos altos do Jazz do ano de 2010; um
dos momentos mais altos do Jazz nacional de sempre, o melhor disco da OJM,
mas também um dos melhores discos de toda a obra de Kurt
Rosenwinkel.