Marty Ehrlich Rites Quartet
Things Have Got To Change

CD Clean Feed 2009

Marty Ehrlich (sa)
James Zollar (t)
Eric Friedlander (celo)
Pheeroan Aklaff (per, bat)

 

Esta será a terceira ou quarta vez que começo a escrever sobre este disco. Things Have Got To Change do Marty Ehrlich Rites Quartet provoca-me apreciações e sentimentos contraditórios como poucos antes.
Marty Ehrlich foi considerado um dos pontas de lança da down town nova-iorquina, mas evoluiu no sentido de um jazz negróide e bastante menos anguloso. Recordamos o excelente concerto que fez à frente do Julius Hemphill Sextet no Jazz em Agosto de 2003, uma homenagem explícita ao Jazz inconformado de Hemphill e do World Saxophone Quartet (de notar que três dos oito temas deste disco pertencem, significativamente, a Hemphill). Inconformado compositor, músico e líder emérito, qualquer dos seus discos merece a minha atenção.
O quarteto é constituído por Ehrlich em saxophone alto, James Zollar em trompete, Eric Friedlander em violoncelo e Pheeroan Aklaff em percussões e bateria. À partida começa por se sentir um vazio provocado pela ausência do baixo - apenas incipientemente substituída pelo cello -, prolongado pelo acompanhamento minimalista de Aklaff, que evidencia a crueza do trompete de Zollar. Este despojamento percorre todo o disco e é bastante o responsável pelos sentimentos adversos que referi. Ao longo das inúmeras audições a Things Have Got To Change, não consegui ainda responder se o despojamento que me perturbou é premeditado ou resulta do pouco tempo para a gravação: afinal os oito temas foram registados numa única take entre duas viagens numa escala por Lisboa.
Rites Rhythms parece-me claramente um ensaio, enquanto Dung, que se configura como um segundo andamento do tema anterior, possui um arranjo bastante mais convencional, mas mais sólido. Este conflito percorre todo o disco entre um experimentalismo marcado pelo arco de Friedlander e o swing vigoroso mas pouco convencional de (da inspiração de) Hemphill.
Creio que este é um disco prematuro. Os quatro músicos nem sempre se entendem e alguns dos temas são apenas esboços, hesitando entre um Jazz de câmara e o Jazz mais clássico, negróide que referi, e apenas os temas de Hemphill funcional no pleno. Dogon A.D. com que termina é o melhor tema do disco e por onde ele deveria ter começado. Que bela sessão teria dado!