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Nelson Cascais Decateto
A Evolução da Forma
CD Sintoma Records 2013

 

Ao longo dos vinte anos de actividade profissional, Nelson Cascais firmou-se como um dos mais seguros músicos de Jazz portugueses, um contrabaixista impoluto, também um compositor muito interessante e um líder por direito próprio.
Nelson Cascais pertence à primeira geração de músicos formados no Hot Club e ele é hoje também professor. Enquanto instrumentista ele é reconhecido como um ouvido atento, o que faz dele um dos mais requisitados contrabaixistas nacionais. Desde 1999 que ele é também o líder dos seus combos, para quem compôs e com quem gravou. O seu quinteto original não se tem mantido estável, mas Nelson Cascais parece ter uma clara predilecção por este formato. Entre os músicos com quem tem tocado - e com quem comunga de um mesmo conceito estético jazzístico, que não questiona - estão Bruno Pedroso, André Fernandes, Carlos Martins, Jorge Reis, Pedro Moreira, João Paulo, João Lencastre, Mário Laginha, Nuno Ferreira, também Avishai Cohen, Jesus Santandreu, Matt Renzi, Abe Rabade e Jesse Chandler, e outros.

O quinto disco de Nelson Cascais, o mais ambicioso na formação: decateto; é composto de sete afrescos onde é possível encontrar referências, ao universo de Charles Mingus em «Mustafá», a Miles Davis no fender-rhodes de Óscar Graça, aqui e ali no walking pesado do contrabaixo de Charlie Haden, ou enfim, de forma mais explícita, a referência a Dave Holland, na citação de «Conference of The Birds» em «A Evolução da Forma».

A pulsão rítmica é uma dominante no disco, para o que contribui a ausência da guitarra que era até aqui uma constante nos combos (apenas o primeiro quinteto gravado conta com dois sopros ao invés de sopro e guitarra). O único instrumento harmónico é o fender-rhodes de Óscar Graça; mas esta é uma banda de sopros, sete: três palhetas e quatro metais; que lhe oferecem uma generosa paleta sonora e autorizam o decateto como uma poderosa banda de rua.
Não estamos perante um quinteto alargado, mas «uma pequena orquestra», como Nelson Cascais a definiu. Na forma clássica como o ele a entende, a escrita e a improvisação possuem espaços próprios - e nesse sentido a música do decateto não rompe com os projectos anteriores. Os músicos são escolhidos a dedo e revelam-se na disciplina orquestral, ou nos solos, genuínos cúmplices da música do director. Nos solos brilham Ricardo Toscano e Federico Pascucci nos saxofones e Diogo Duque no trompete, mas toda a banda é convidada a solar ao longo do disco.

Disco de originais, tem os melhores momentos no epidérmico «Mustafá», na charanga de «Canto» com que encerra, no curioso e engenhoso «Hurly Burly», um tema onde a «improvisação livre» é sustentada pela progressão do fender-rhodes, e nos quase 15 minutos de «A Evolução da Forma» que dá o nome ao disco: uma forma que se vai desenhando, como um bolero.

A Evolução da Forma é um disco um disco maturado, pleno de bonomia e gosto pelo Jazz, sem a precipitação que é vulgar nos músicos mais jovens, desejosos de gravar a todo o custo. Nelson Cascais esperou pelo tempo certo, como ele próprio diz. A Evolução da Forma possui a erudição e a consistência do tempo.

Ricardo Toscano (sa, cl)
Federico Pascucci (st, f, cl)
Paulo Gaspar (clb)
Diogo Duque (t)
Nuno Cunha (tro)
Luís Cunha (trb)
Gil Gonçalves (tu)
Óscar Graça (p, f-r)
Nelson Cascais (ctb)
Bruno Pedroso (bat))