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Nguyên Lê
Songs of Freedom
CD ACT 2011
Por definição a música pop não é muito exigente em termos de elaboração, sendo por isso considerada música menor, por vezes com alguma injustiça. O que a faz popular (pop) é a moda (relação recíproca), a força dos intérpretes ou a letra das canções, inteligível e simples, próxima também do público, menos exigente e, claro, a própria simplicidade das melodias e dos ritmos.
Nos anos 70 a música pop anglo-saxónica sofreu uma explosão que resultados bastante diversos, mas com frequência bastante ricos, tendo evoluído em todos os sentidos, ora por razões políticas que iam da luta contra a guerra do Vietname à afirmação cultural da juventude da altura ou, utilizando referências dispersas, culturais, filosóficas, técnicas, no sentido das músicas folk e étnicas, o Jazz ou a música clássica. Pode dizer-se que a regra era a dispersão, e a verdade é que a simplicidade que referi deixou ser com frequência real.
De qualquer forma, os valores que deverão ser tomados para criticar a pop music deverão ser outros que os utilizados para criticar a música clássica ou o Jazz, ou a crítica será obviamente desfocada. Também a abordagem por parte de músicos deverá ser diferente, sob o risco de transformar os originais em produtos incaracterísticos.
Mas os prolegómenos vão longos e levar-nos-iam para caminhos que não desejamos. Songs of Freedom é um disco de covers pop dos anos 70 de Nguyên Lê - e o resultado é medíocre. Creio que o problema residiu na forma como o guitarrista vietnamita há muito radicado em França abordou a música, misturando Beatles, Led Zeppelin, Janis Joplin ou os Iron Butterfly, quando eles, do que tiveram de mais interessante, residiu na individualidade e na força expressiva do que criaram. Os arranjos acabaram por resultar bastante semelhantes, e bastante próximos até do que o próprio Nguyên Lê fez noutras ocasiões, denotando uma clara falta de inspiração. Em nenhum dos casos conseguiu fazer melhor ou sequer distinto (dos originais) que mereça referência positiva, resultando sempre em versões light com um toque etno: a introdução de algum orientalismo surgiu com frequência desajustado, e o ror de convidados de todos os quadrantes nem pela diversidade ajudou.
Fica a pergunta do que terá levado um bom músico como Nguyên Lê a fazer um disco incaracterístico e desinteressante como este. Mas no melhor pano cai a nódoa, dizem.
Nguyên Lê (g, compu)
Illya Amar (vib, mar, elec)
Linley Marthe (b-el, voz)
Stéphane Galland (bat)
+ convidados:
Youn Sun Nah (voz)
David Linx (voz)
Dhafer Youssef (voz)
Ousman Danedjo (voz)
Julia Sarr (voz)
Himiko Paganotti (voz)
David Binney (sa)
Chris Speed (cl turco)
Prabhu Edouard (per)
Stéphane Edouard (per)
Karim Ziad (per)
Hamid El Kasri (per)
Keyvan Chemirani (per)
Guo Gan (erhu)
(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #12)