A
votação
Ora cá estamos
nós de novo a votar «os mais». E uma outra vez
me cabe fazer notar o quanto de subjectivo pode haver numa classificação/
hierarquização deste tipo: não vou repisar argumentos.
Apenas foram estes os discos e os concertos que mais apreciámos!
Dos que ouvimos/ a que assistimos, naturalmente.
Aqui vale a pena fazer notar a diferença: é que nesta votação
procuramos que quem vota a) tenha assistido a um número de concertos
razoável e não apenas os do clube dele, b) tenha ouvido
um número razoável de discos e não apenas os da
editora dos amigos, c) tenha alguma ideia do que é o Jazz e não
o considere apenas uma espécie de folclore sobrevivente, d) tenha
um conhecimento razoável da história do Jazz Toda
e não apenas de um determinado período e e) se distinga
por uma militância pela causa (do Jazz), no exercício da
divulgação ou da crítica persistente e continuada.
Os nomes escolhidos falam por si e é com muita honra minha que
eles aceitaram uma vez mais o meu convite para participar neste «exercício
de subjectividade» anual para JazzLogical. Aí está a
votação «Os mais 2007».
Creio que vale a pena uma curta análise da votação.
Em primeiro lugar, não houve «unanimidade» na categoria «Acontecimento
do Ano». Apesar disso, se acordo houve, ele repartiu-se entre o esforço
das
editoras
na recuperação
de alguns
grandes clássicos do Jazz perdidos ou menortratados no passado e por
outro lado no desaparecimento de alguns ícones do Jazz como Michael
Brecker ou Max Roach.
Na categoria CD Internacional Novidade,
será de notar a vitalidade do Jazz mainstream, a par de obras mais irreverentes
ou atípicas, ainda
que claramente Jazz. Creio também que alguns discos terão sido penalizados
por uma deficiente distribuição, mas os lugares primeiros de Enrico Rava,
Kurt Elling e Michael Brecker são inteiramente merecidos.
O baú dos clássicos é um poço sem fundo e todos os dias surgem tesouros
esquecidos. Ainda assim, parece-me que as editoras preferem jogar pelo
seguro e escavar nos seus próprios arquivos em vez de procurar alhures.
Mas de que me queixo eu com Coltrane (de novo!), Miles, Monk, Mingus
e George Russell nos lugares cimeiros das CD Internacional
Reedições?
CD Nacional. A cena nacional é muito
curiosa: por um lado um músico que dirige uma editora, por outro uma
activa editora,
embora com uma linha editorial
por vezes confusa e diversa, e enfim por outro uma miríade de obras de
autor não menos interessante, mas com distribuição pouco eficiente.
A juntar a isto tudo, o desinvestimento das majors no Jazz (o que não
é um fenómeno nacional, verdade seja dita), mas privilegiando ainda assim
as cantoras e obras mais tangenciais a outros géneros mais pop, na busca
de públicos mais alargados. O resultado de tudo isto é uma intensa produção
nacional, mas a que o
público
não
tem infelizmente nem sempre acesso fácil. Enfim, a votação da crítica
consagrou de novo Mário Laginha (pois quem mais?), agora num registo
mais clássico (trio Jazz), e logo a seguir um jovem exuberante
pianista -
Júlio
Resende-, a par com o irreverente mas sólido André Fernandes, num disco
saído no cair do ano.
Na capítulo dos Concertos, a coisa
está complicada: Portugal já faz hoje parte do roteiro internacional
dos músicos de Jazz, e por cá vão
passando todos os grandes nomes do Jazz. Curiosamente, no ano em que
o mais tradicional dos festivais - O Estoril Jazz - fez o melhor dos
últimos anos, outros grandes festivais apostaram nos clássicos: o decano
da guitarra
Jim Hall
foi a Angra do Heroísmo, Guimarães levou Pharoah Sanders e Ahmad Jamal
e até Ornette Coleman foi à Gulbenkian tocar sentado. Activas estão também
as grandes salas de espectáculos como o CCB, a Culturgest e a Casa da
Música; mas será de notar a profusão de concertos e festivais por todo
o país, de Lagos e Faro a Bragança, Chaves, Braga e Guimarães, e Angra
do Heroísmo, Funchal, Calheta, Ponta Delgada; eu sei lá. Nos lugares
cimeiros da votação estão, sem surpresas, Jason Moran, Charles Lloyd
e Joe Lovano e, para minha grande surpresa, um cantor impressionante:
Kurt Elling. Vale a pena observar como o San Francisco Jazz Collective,
apesar de ter cinco entradas, foi penalizado pelo facto de os críticos
se terem dividido entre o Estoril Jazz e o Funchal Jazz.
A votação na Banda do Ano corrige
o «desvio». Inequivocamente uma das formações mais eficazes dos últimos
tempos, o SFJC aí está no primeiro lugar. Logo a seguir, alguma surpresa:
o The Claudia Quintet de John Hollenbeck e a orquestra da Maria Schneider,
que não tocou este ano em Portugal.
Para Músico do Ano, algum nacionalismo
terá imposto o jovem André Fernandes à frente de Enrico Rava, Maria
Schneider ou Jason Moran. O merecido prémio terá levado em conta, pois
claro, a sua intensa actividade como músico (virtuoso, moderno
e irreverente), como professor e como líder, e ainda como compositor,
a
par com o seu papel como dirigente da
Tone Of A Pitch.
Leonel Santos
Votaram:
Paulo BARBOSA
(a)
Raul Vaz BERNARDO (b)
António BRANCO (c)
José DUARTE (d)
Rui DUARTE (e)
António
RUBIO (f)
Leonel SANTOS (g)
Manuel Jorge VELOSO (h)
a) Publico, Jazz.pt
b) Expresso
c) Improvisos ao Sul (Internet), Rádio Voz da Planície,
Jazz.pt
d) Jazzportugal (Internet), RDP Antena 1, RDP Antena 2
e) Jazz.pt
f) Correio da Manhã
g) JazzLogical
h) O Sítio do Jazz (Internet), RDP Antena 2
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