BERNARDO SASSETTI TRIO 10 ANOS!
Há um mundo desde o Bernardo Sassetti que iniciou a «vida profissional» no Jazz nos final dos anos 80 até hoje.
Com uma sólida formação clássica, Sassetti entrou o Jazz pela via dura, pelas mãos de Zé Eduardo e Sir Roland Hanna. Nos anos seguintes sobe à primeira linha do Jazz nacional no grupo de Carlos Martins e em 1994 grava para a Groove – Movieplay Salssetti, um disco contaminado pelas «sonoridades quentes da América Latina, das Caraíbas ao Brasil», como escrevi na altura. Não por acaso Salsetti contava com a colaboração das palhetas de Paquito d'Rivera.
Salssetti tornava-se notado, não pela originalidade, e talvez também não pela fluência irrepreensível da execução claramente jazzística que Sassetti já não nessa altura precisava demonstrar, mas pela solidez dos arranjos incomuns no Jazz de origem nacional. Assim escrevi para o DN: «Não sendo exactamente um inovador, soube dosear a inspiração latino-americana nos estereotipos jazzísticos, mas é no engenho que coloca nos arranjos que ultrapassa a vulgaridade e que comunicam ao seu disco de estreia uma enorme frescura e energia contagiante. Tome-se apenas como exemplo a riqueza das texturas em "Sons do Brasil" e "Yelélé Candomblé"; o tratamento reservado aos sopros, a forma desconcertante mas irrepreensívelmente lógica como as diferentes linhas melódicas e rítmicas se sucedem e entrelaçam, a alternância dos uníssonos e curtos solos, os contrapontos, e os próprios jogos de volumes. Dois temas onde a maturidade do jovem músico já não é apenas uma promessa.».
Em 1996 grava de novo Mundos para a Polygram e nos anos seguintes toca com meio mundo na cena internacional e nacional.
Já neste milénio grava Nocturno e mais recentemente Unreal: Sidewalk Cartoon para a Trem Azul que lhe ofereceu meios de produção e promoção incomuns na cena nacional. Nestes discos Sassetti alarga definitivamente os seus horizontes para além do jazz mainstream, não se coibindo de utilizar meios interdisciplinares que ultrapassam a própria música. A sua colaboração para o teatro ou o cinema são disso face visível, mas o último disco é, na sua concepção um espectáculo completo. Creio que Bernardo Sassetti continua a sua procura.
Em Unreal, como nos discos anteriores, o pianista-compositor retorna à música clássica com resultados diversos e mais ou menos conseguidos, entre Bach, Chopin e Mompou, Eleni Karaindrou ou Michael Nyman, mas também alguma música étnica ou Pharoah Sanders.
Um dos mais requisitados pianistas nacionais, tem-se multiplicado nos últimos dez anos em colaborações e projectos. Entre os mais destacados, surgem as colaborações com Mário Laginha ou Laginha e Pedro Burmester, os concertos a solo e este trio que agora celebra 10 anos, com Carlos Barretto e Alexandre Frazão; o grupo onde naturalmente mais se tornam evidentes as suas «convicções» jazzísticas, mesmo se foi exactamente com ele que gravou Nocturno.
Espera-se Jazz pois, na Culturgest. E como músicos de Jazz que são Barretto, Frazão e Sassetti, espera-se empatia, interactividade e comunicação, que nada tem a ver com telepatia ou qualquer outro fenómeno paranormal, mas simplesmente com a essência do Jazz e a sua própria definição.
Espera-se pois Jazz na Culturgest. Parabéns Bernardo Sassetti, Alexandre Frazão e Carlos Barretto!
2006