GEORGE RUSSELL
1923 - 2009

Se há um sinónimo para vanguarda no Jazz ele dá pelo nome de George Russell. Sem nunca ter realmente granjeado as graças do público, George Russell ajudou a definir os contornos do Jazz dos anos 50 aos nossos dias e de certa forma ele foi um revolucionário como Miles Davis na forma como antecipou formas e cavalgou géneros.
George Russell começou por tocar bateria na banda de Benny Carter ainda nos anos 40, mas desistiu quando foi substituído por Max Roach, tendo trocado o instrumento pelo piano e a composição, mas também a teoria musical. Publicado em 1953, Lydian Chromatic Concept of Tonal Organization foi um passo fundamental para o surgimento do Jazz modal de Miles Davis e John Coltrane.
Em 1947 Russell já tinha oferecido a Dizzie Gillespie todo o universo das Caraíbas com Cubano Be, Cubano Bop e uma década depois ele era um respeitado músico de vanguarda a trabalhar com Bill Evans, Paul Motian, Bob Brookmeyer, Art Farmer, Phil Woods, John Hendricks e John Coltrane; mais tarde também Paul Bley, Steve Swallow, Eric Dolphy, Sheila Jordan, entre inúmeros outros que dirigia. Nos anos 60 a orquestra era já o seu instrumento privilegiado e as New York Big Band e mais tarde a Living Time Orchestra tornaram-se as modernas orquestras de referência, prolongando a sua influência até ao século XXI. Pelas grandes formações de George Russell, dos EUA à Europa, encontramos Lew Soloff, Marty Ehrlich, Gary Valente, Cameron Brown, Terje Rypdal, Arild Andersen, Jon Christensen, Manfred Shoof, Jan Garbarek, Jean-François Jenny-Clark, Bobo Stenson, Ray Anderson, etc, etc. Vale a pena ler os nomes para compreender onde foram buscar influências muitos dos músicos que deram cartas nos últimos 50 anos. Que George Russell dirigiu, com quem trabalhou, para quem compôs, que influenciou.
Não havia universos sagrados para o homem que desde a primeira hora trabalhou para alargar os horizontes do Jazz, ora trazendo para si elementos das músicas alheias entre a música cubana, Stravinsky, as escalas musicais indianas, a electrónica ou o rock - para apenas referir as motivações explícitas - e realmente não apenas como motivações, mas como formas de redefinir a todo o momento a própria linguagem Jazz.

Discografia seleccionada

George Russell and His Smalltet
The RCA Victor Workshop

BMG 1998 (1956)
Class: 5/5
Em 1956 decretava o Jazz moderno à frente de três quinteto e sextetos onde pontuavam Bill Evans, Art Farmer e Paul Motian. Primeiro disco de George Russell como compositor e arranjador da sua própria banda; George Russell não toca. Os arranjos são especialmente arrojados, com os instrumentos cruzando movimentos inesperados e envolventes numa dinâmica verdadeiramente orquestral. Um cinco estrelas incontornável.

 

 

George Russell
Ezz-thetics

OJC 1991 (1961)
Class: 5/5
Em Ezzthethics George Russell subia a parada ao reunir um grupo de jovens leões: Eric Dolphy, Don Ellis, Dave Baker, Joe Hunt, Steve Swallow e ele mesmo ao piano. O destaque vai para os arranjos de dois clássicos 'Round Midnight (Monk) e Nardis (Miles davis), e para o original Ezz-Thetics, mas mais que isso, ou talvez a acrescer, as prestações do fantástico Eric Dolphy, Steve Swallow a tocar baixo acústico e ele mesmo no piano. Outro disco fundamental.

 

George Russell
The Outer View

OJC 1991 (1962)
Class: 5/5
Este disco tornou-se lendário não apenas pelo uso de dissonâncias ou de improvisações mais radicais, mas em especial no derruir de standards como Au Private de Charlie Parker ou You Are My Sunshine. De notar também a inclusão da desconcertante composição de Carla Bley, Zig-Zag. Três sopros e secção rítmica com ele mesmo ao piano, Steve Swallow no baixo, Pete la Roca na bateria, acrescido da jovem Sheila Jordan no espantoso arranjo de You Are My Sunshine.

 

 


George Russell
New York Big Band

Soul Note 1982 (1977-8)
Class: 4,5/5
Uma das coisas que sempre impressiona nas pequenas formações de George Russell é a sua densidade orquestral. Por essa razão não será de espantar que – como atrás disse - a partir de certa altura a orquestra passe a ser o seu instrumento privilegiado. Embora ele já tenha experimentado dirigir orquestras, a poderosa New York Big Band constituída nos anos 70 é a expressão dessa razão; curiosamente por vezes próximo do que outro grande compositor e arranjador desse período fez, Gil Evans.
O disco é percorrido por uma grande energia e sente-se a influência da pop music nos arranjos e na inclusão de instrumentos eléctricos e ainda nas vocalizações de Lee Genesis interpretando um blues e o célebre tema de Billie Holiday God Bless The Child.
Em 1977 Russell tinha dirigido na Europa a Swedish Radio Jazz Orchestra e o disco inclui ainda um exaltado arranjo para a primeira composição de Russell, Cubano Be, Cubano Bop.

George Russell Living Time Orchestra
It’s About Time

Label Bleu 1996
Class: 4/5
Depois de alguns anos de intervalo George Russell ressurge em Londres com a Living Time Orchestra composta por uma dúzia e meia de músicos britânicos, onde os nomes conhecidos são Andy Sheppard, Chris Biscoe e David Fiuczynski. Disco desigual, Russell mistura Jazz rock, o Miles Davis eléctrico, o som Weather Report, Gil Evans e electrónica, onde o maior pecadilho talvez seja a estrutura rítmica realtivamente rudimentar (embora seja de crer que premedita