Monk e a música popular


É bastante estranho que Thelonious Monk, o mais importante compositor do jazz com Duke Ellington, tenha penetrado no mundo da música popular americana, os ditos “standards” ou, melhor, a música das partituras de Tin Pan Alley. Também não restam dúvidas: o grosso da música que Thelonious Monk tocava com o seu grande quarteto eram as suas composições, o resto eram peças “antigas” de compositores da Broadway. Este fenómeno de exploração dum repertório da música popular é mais visível nas suas gravações em solo absoluto. E, ainda mais notável, é como tais composições tomaram, efectivamente, um espectro de música “monkiana”.

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Thelonious Monk, não era um típico homem do “be bop”, o movimento que revolucionou o jazz no início da década de 40. Monk não favorecia as rápidas e labirínticas explorações temáticas que atraíam Parker, Powell ou Gillespie. Monk assentava a sua originalidade na variação rítmica e, também, nas alterações que fazia às progressões harmónicas dos temas. A Thelonious Monk interessava mais o esqueleto melódico dos temas pois era acompanhante por excelência, virtude que adquiriu ao inspirar-se em James P. Johnson e todos os pianistas de estilo “stride”. E, verdade seja dita, se os boppers, recusavam explicitar os temas da Broadway, por uma questão de coerência artística, não deixavam de basear a sua música na estrutura interna dos “standards” (vide o célebre caso de “I Got Rhythm” de Gershwin). Monk conhecia em profundidade a música popular. É de notar que todos os “standards” que Monk tocou têm a sua autoria registrada até 1945. Na sua primeira gravação para a Blue Note, de 1947, Monk tocou dois standards, “Nice Work If You Can Get It” e “April in Paris”, impondo-lhes não apenas a idiossincrasia dos seus modos, mas igualmente uma grande simplicidade e humor. Todavia, penso que a sua identificação com um compositor da Broadway é mais visível na sua versão de “Smoke Gets in Your Eyes” de Jerome Kern. A cadência lenta da composição e o seu lado sombrio assentam a Monk como uma luva.
Ao longo de toda a sua carreira, sobretudo em solo absoluto, Monk expandia-se para um universo que marcava como se fosse seu, o mundo dos “standards”.

RAUL VAZ BERNARDO