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2013 - 11.ª Festa do Jazz do São Luiz

Evento incontornável do Jazz nacional, A FESTA traz-nos anualmente o melhor do Jazz nacional aos palcos do São Luiz, mas é também o termómetro do ensino do Jazz em Portugal. E este é para mim o melhor espectáculo possível: o de assistir ao saudável concurso dos jovens que irão ser os grandes de amanhã.

Nem tudo se aprende na escola, e muitos dos excelentes instrumentistas que saem das escolas nunca passarão talvez disso: excelentes instrumentistas. Existe uma linha de pensamento na crítica Jazz nacional que vem dizendo que o Jazz não se aprende nas escolas, valorizando pelo contrário a ausência de formação que contrapõem à «deformação» estética-ideológica que as escolas proporcionariam (uma espécie de reformulação ingénua do «Hey, teacher, leave the kids alone»).

Creio que estes críticos esquecem «apenas» que os músicos que citam como modelo de autodidactismo quase sempre andaram na «escola» da igreja, se formaram em bandas de rua ou dentro de comunidades musicais. Comparar a cultura portuguesa onde a música está quase ausente, com a riqueza musical das culturas populares de New Orleans, o Brasil ou Cabo Verde, ou pelo contrário os Estados Unidos, onde todas as escolas secundárias têm uma banda e muitas famílias possuem um piano, é ridículo. Em Portugal existem algumas excepções de tradições culturais, mas eu diria que são notáveis excepções, e a prova é até que a maior parte dos músicos autodidactas portugueses são fracos instrumentistas, pouco ou nada versáteis, cultivando uma ou outra forma de que se tornaram ocasionalmente hábeis executantes; socorrendo-se com frequência de encenações e propaganda, que mais não são que formas de camuflar a sua incipiência. Sem escamotear o valor que ainda assim esses músicos (e até da encenação, que poderá acrescentar valor «conceptual» à música) poderão possuir, e – reconheço - também do papel castrador que as escolas realmente poderão ter, a rejeição do papel das escolas é uma atitude infantil: os melhores músicos são os que «sobrevivem» às escolas, mas as escolas são os locais adequados para aprender e crescer.

Compare-se na lista dos músicos que ganharam prémios em edições anteriores da Festas do Jazz com os jovens músicos que por aí andam já a dar cartas para perceber o equívoco.

O ensino não acaba nas escolas: depois é preciso ouvir muito Jazz, muito rock, muito folk, muita pop, muita clássica e erudita, muitas coisas diferentes; depois é preciso tocar com muitos músicos de todas as origens e de todas as cores, talvez ir para fora, trocar de ambiente, e tocar, tocar, tocar. Mas o princípio é nas escolas.

Enfim, como comecei: este é para mim o melhor espectáculo possível; o de assistir ao saudável concurso dos jovens que irão ser os grandes de amanhã.

Segue-se o registo dos concertos seniors a que assisti.

Coreto Porta-Jazz

Depois da audição do disco de estreia do Coreto Porta-Jazz, que votei como o melhor disco de Jazz nacional de 2012 ( ler crítica AQUI ), tinha imensa curiosidade em os ver tocar “ao vivo” (perdoem a redundância).

O Coreto passou com distinção a prova de fogo, confirmando o prémio que JazzLogical lhe tinha atribuido. « Com um engenho insuspeitado, Brandão revela-se um exímio organizador da massa sonora que os oito sopros e a sólida secção rítmica lhe autorizam», escrevi a propósito do disco, e este será porventura o mérito maior do undecateto dirigido por João Pedro Brandão, que merece desde já todo o elogio pela competência revelada na escrita. A exuberância colocada nos arranjos para os sopros é particularmente digna de observação, rara em Portugal, e notável ainda pela sua juventude.

Uma única observação para a prestação alive do Coreto, respeita ao espaço para os solos que, se competentes – e o Coreto dispõe realmente de bons solistas -, cortaram aqui e ali o ritmo do espectáculo, e gostaria de frisar a palavra espectáculo.

É um erro comum em muitas bandas nacionais, que denotam a ausência de noção de espectáculo, introduzindo demasiado espaço para os solistas, que provém com frequência do excessivo protagonismo - diria, por vezes, vedetismo - de alguns músicos, que cortam o ritmo do concerto e o arrastam para além do razoável.

Duke Ellington, um dos maiores organizadores de sons da História do Jazz, que se considerava a si mesmo um entertainer , combinava uma noção de espectáculo aguda com dotes de direcção férreos que o autorizavam a intervir sobre as prestações dos músicos. Creio que faltam esta autoridade e sentido de espectáculo a muitos líderes nacionais. Se no concerto do Coreto os solos não estragaram o concerto, também pouco valor lhe acrescentaram.

Enfim, como comecei, o Coreto confirmou ao vivo o prémio para o melhor disco de 2012.


Fragmentz

O Fragmentz é um quinteto vocal mais secção rítmica liderado por Sara Serpa.

Apesar de alguns apontamentos mais interessantes, o concerto dos Fragmentz foi uma desilusão. Dois dos temas, que se afastam claramento do Jazz, inspirados provavelmente na música contemporânea de Steve Reich, foram os momentos altos do concerto; mas o abuso da utilização de vocaleses muito Flora Purim ou Return To Forever, que se esgotaram há quarenta anos, dissolvem quase sempre as vozes num discurso informe e desinteressante.


Mali M'Bule Baaba

Concerto emocionado, de homenagem a Bernardo Sassetti, onde desfilaram alguns dos nomes maiores de duas gerações de músicos nacionais.


RED Trio

Escrevi há dois anos sobre o Red Trio, a que ofereci o benefício da dúvida como representante singular no panorama nacional de um modelo (que eu considero) datado. Desde então o projecto não parece ter sofrido qualquer evolução: o Red Trio pratica um Jazz duro que procura recuperar a energia do free jazz dos anos 60; mas acusou ao vivo as limitações de uma estética – repito - esgotada. Desprovido de qualquer subtileza, a música de Hernâni Faustino imbrica-se num discurso circular, que é assumido. Falta escrita, falta composição, falta detalhe, falta elaboração. A força bruta de que faz gala revela-se a sua debilidade.


Bruno Santos Ensemble

Responsável pedagógico da Escola do Hot Club, Bruno Santos levou ao São Luiz o seu mais recente projecto, liderando um ensemble de dez músicos. O ensemble, no entanto, raramente se revelou um verdadeiro decateto, em grande medida devido ao desaproveitamento dos músicos em palco.

Os melhores momentos foram quase sempre os seus solos, e ele é inquestionavelmente um bom solista, sensível e tecnicamente dotado. Mas ao grosso da danda praticamente foi dado apenas o papel de figurantes. Dir-se-ia um trio com convidados. Uma ou outra intervenção do todo ou os solos ocasionais apenas confirmaram a ausência de ideias para o ensemble. Pouca subtileza nos arranjos para o ensemble e apenas uma preocupação dirigida para as composições e os solos; (quase sempre) imobilidade dos sopros, solos excessivamente longos que cortavam o ritmo do concerto.

Morno.


Massimo Cavalli

Jazz com um toque lusitano por um músico italiano radicado em Portugal, Massimo Cavalli apresentou no palco do São Luiz o seu disco de estreia Varandas do Chiado (ver crítica do disco AQUI) .

Jazz competente, alegre e irreverente, revelou um compositor interessante e um grupo de músicos com ideias e arte, onde se destacou um saxofonista arrebatado: Francesco Bearzatti.).


Maria João/ Mário Laginha

«Obrigado Maria João .
Obrigado pelo concerto extraordinário que me ofereceste no São Luiz.
Obrigado por me emocionares até às lágrimas.
Obrigado por me recordares que és uma grande cantora, aqui em Portugal, onde não tens par, mas que és uma grande cantora em qualquer parte do mundo.
Obrigado por me recordares que não apenas tens uma voz incrível, mas que és capaz de improvisar, de criar, que não tens barreiras, que a tua inspiração é toda a música, que o teu palco é o mundo.
(E obrigado Mário, por inspirares essa grande cantora que é a Maria João, por compores como só tu és capaz.)»

Escrevi estas linhas emocionado no final do concerto que Maria João e Mário Laginha deram no São Luiz, e pouco tenho a acrescentar. Maria João e Laginha tocaram «Iridiscente», editado no final do ano passado. Formação invulgar: piano, harpa, acordeão e percussão a aocmpanhar a voz; mas a música de Mário Laginha e a voz de Maria João têm o condão de nos surpreender, numa música que tem tanto de invulgar quanto de genial.

Maria João e Mário Laginha não tocam/ cantam Jazz convencional; mas onde caberia a sua música? João e Laginha inventaram o seu Jazz, o seu folclore e o seu espaço próprio na música.

 


 

Sáb 6 Lisboa Teatro São Luiz (JI) 14.30- 19.00 Escolas de Jazz  
Teatro São Luiz (T-EMV) 15.00 Sara Serpa /André Matos
(Masterclass)
 
Teatro São Luiz (CSL) 16.00 Paulo Santo e Sérgio Rodrigues Paulo Santo (vib), Sérgio Rodrigues (p-el)
Teatro São Luiz (T-EMV) 17.00 Toscano/Quintino Quarteto Ricardo Toscano (sa), Afonso Pais (g), António Quintino (ctb), João Pereira (bat)
Teatro São Luiz (CSL) 17.30 Paulo Santo e Sérgio Rodrigues Paulo Santo (vib), Sérgio Rodrigues (p-el)
Teatro São Luiz (T-EMV) 18.00 Nelson Cascais Decateto Diogo Duque (t, flis), Luís Cunha (trb), Nuno Cunha (trom), Gil Gonçalves (tu), Ricardo Toscano (sa, cl), Paulo Gaspar (clb), Federico Pascuci (st, f), Óscar Graça (p, f-r), Nelson Cascais (ctb), Bruno Pedroso (bat)

Teatro São Luiz (SP)

19.00 Coreto Porta-Jazz «Aljamia» João Pedro Brandão (sa, f), José Pedro Coelho (st), Fernando Sanchez (st), Rui Teixeira (sb), Ricardo Formoso (t), Susana Santos Silva (t), Daniel Dias (trb), Andreia Santos (trb), Alexandre Dahmen (p), José Carlos Barbosa (ctb), José Marrucho (bat)
Teatro São Luiz (SP) 21.30 Sara Serpa & Fragmentz Sara Serpa (voz), Joana Machado (voz), Joana Espadinha (voz), Mariana Norton (voz), Margarida Campelo (voz), André Matos (g), Demian Cabaud (ctb), André Sousa Machado (bat)
Teatro São Luiz (SP) 23.00 Mali M'Bule Baaba Carlos Barretto (ctb), José Salgueiro (bat), Mário Delgado (g), Luís Figueiredo (p), Júlio Resende (p), Carlos Martins (st), José Pedro Coelho (st), Ricardo Toscano (sa), Diogo Duque (t) ...
Teatro São Luiz (JI) 00.30 Sexteto do Conservatório da Jobra (2012)
+ Jam Session
Jennifer Garrido (voz), Sócrates Bôrras (s), Filipe Minhava (g), Rafael Coito (vib), Tiago Mourão (ctb), Marcelo Soares (bat)
Dom 7 Lisboa Teatro São Luiz (JI) 14.30- 19.00 Escolas de Jazz  
Teatro São Luiz (T-EMV) 15.00 Chris Speed
(Masterclass)
 
Teatro São Luiz (CSL) 16.00 Pedro Nobre e Francisco Brito Pedro Nobre (p-el), Francisco Brito (ctb)
Teatro São Luiz (T-EMV) 17.00 LAMA + Chris Speed Susana Santos Silva (t), Gonçalo Almeida (ctb), Greg Smith (bat) + Chris Speed (st, cl)
Teatro São Luiz (CSL) 17.30 Pedro Nobre e Francisco Brito Pedro Nobre (p-el), Francisco Brito (ctb)
Teatro São Luiz (T-EMV) 18.00 RED Trio Rodrigo Pinheiro (p), Hernâni Faustino (ctb), Gabriel Ferrandini (bat)

Teatro São Luiz (SP)

19.00 Bruno Santos Ensemble Bruno Santos (g), Gonçalo Marques (t), Jorge Reis (sa, ss), César Cardoso (st), Luís Cunha (trb, f), Paulo Gaspar (cl, clb), Rodrigo Gonçalves (p), António Quintino (ctb), Luís Candeias (bat), Mariana Norton (voz)
Teatro São Luiz (SP) 21.30 Massimo Cavalli «Varandas do Chiado» Quartet
Francesco Bearzatti (st, cl), João Paulo Esteves da Silva (p, aco), Massimo Cavalli (ctb), Joel Silva (bat)
Teatro São Luiz (SP) 23.00 Maria João & Mário Laginha
«Iridiscente»
Maria João (voz), Mário Laginha (p), Eduardo Raon (harpa), João Frade (aco), Alexandre Frazão (bat, per)
Teatro São Luiz (JI) 01.00 Ensemble ESMAE (2012)
+ Jam Session
Fábio Almeida (sa), Luís Miguel (st), Ricardo Pinto (p), Marcel Pascual Royo (vib), Diogo Dinis (ctb), Nuno Oliveira (bat)

ESCOLAS DE MÚSICA
Jardim de Inverno

Sábado 6 de Abril Domingo 7 de Abril

14h30
Academia Municipal das Artes da Nazaré

Paulo Santos trompete
Rita Viola sax e voz
Gil Silva trombone
Jorge Mota piano
Tiago Silva baixo
David Estrelinha bateria
professor: Adelino Mota

14h30
Associação Grémio das Músicas – Faro

Rodrigo Dias guitarra
Sebastião Sheldrick piano
Gonçalo Alves baixo
Leonardo Coelho bateria
professor: Sónia Cabrita

15h10
Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira

Sofia Petito voz
João Gonçalves clarinete
Bernardo Pereira piano
Fedor Bivol guitarra
Luís Pizarro contrabaixo
Rolando Faria bateria
professores: Georgy Titov e Jorge Borges
15h10
RIFF Escola de Música – Aveiro

Ricardo Rodrigues sax tenor
Vasco Miranda piano
Bruno contrabaixo
Miguel Estima bateria
professor: Fernando Rodrigues
15h50
Escola de Jazz do Barreiro

Renato Sousa guitarra
Nuno Santos guitarra
André Mendes piano
Nuno Faria contrabaixo
David Alves bateria
professor: Jorge Moniz
15h50
Conservatório de Música de Coimbra

Maria Nunes trompete
André Pimenta trombone
Rodrigo Rama piano
Diogo Vidal guitarra
Carlos Borges baixo
João Cruz bateria
professores: Fernando Rodrigues e Rui Lúcio
16h30
Escola de Jazz Luiz Villas -Boas / HCP – Lisboa

José Monteiro trompete
José Cruz guitarra
Vasco Pimentel piano
Ricardo Marques contrabaixo
Maximiliano Llanos bateria
professor: Bruno Santos
16h30
ESMAE – Escola Sup. Música e das Artes do Espectáculo – Porto

José Soares sax alto
Hugo Lopes sax tenor
Ricardo Coelho vibrafone
Jonas Freitas guitarra
João Paulo Rosado contrabaixo
Pedro Almiro bateria
professor: Michael Lauren
17h10
Associação Cultural Sítio de Sons – Coimbra

Mariana Keating voz
José Rebola saxofone
Tiago Cristovão guitarra
Alexandre Jesus guitarra
João Valença contrabaixo
Francisco Costa bateria
professor: Ivan Silvestre
17h10
UÉ – Universidade de Évora

Emilia Jaén voz
Juan Manuel Morán saxofone
Daniel Neto guitarra
Mario de La Cruz piano
José Luís Mulero contrabaixo
Amândio Filipe bateria
professor: Óscar Marcelino da Graça
17h50
Escola de Jazz do Porto

Filipe Centeno guitarra
José Vale guitarra
Miguel Morgado piano
Filipe Passos contrabaixo
Cecília Costa bateria
professor: Pedro Barreiros
17h50
ESML – Escola Superior de Música de Lisboa

André Murraças sax tenor
João Barradas acordeão
Gonçalo Neto guitarra
André Rosinha contrabaixo
Marcelo Araújo bateria
professor: Afonso Pais
18h30
Conservatório de Música da Jobra –Branca, Albergaria-a-Velha

Hugo Barbosa sax alto
Hugo Santiago sax tenor
Hugo Gomes guitarra
Marco Santos piano
Rafael Pinheiro contrabaixo
Miguel Rodrigues bateria
professores: João Martins e Carlos Mendes

18h30
ULL – Universidade Lusíada de Lisboa

Catarina Dias voz
Pedro Branco guitarra
João Carreiro guitarra
Luís Pinto baixo
David Campos bateria
professores: Joana Machado e Desidério Lázaro

Júri de Avaliação dos Combos das Escolas
Paulo Barbosa
André Fernandes
Carlos Barretto

 
   

Resultado do concurso de combos das Escolas de Jazz
Escolas Superiores de Música
Melhor Instrumentista:
Marcelo Araújo (bateria): ESML
Menções Honrosas - Instrumentistas
Ricardo Coelho (vibrafone): ESMAE - Porto
Pedro Branco (guitarra): ULL - Universidade Lusíada de Lisboa
Menção Honrosa - Combo
ESML- Escola Superior de Música de Lisboa
Escolas de Música
Melhor Instrumentista:
João Cruz (bateria): Conservatório de Música de Coimbra
Menções Honrosas - Instrumentistas
Vasco Miranda (piano): RIFF Escola de Música
Ricardo Marques (contrabaixo): HCP
Hugo Gomes (guitarra): Conservatório de Música da Jobra
Melhor Combo
Conservatório de Música da Jobra - Branca, Albergaria-a-Velha
Menções Honrosas - Combo
RIFF Escola de Música - Aveiro
Escola de Jazz Luiz Villas-Boas / HCP – Lisboa
Conservatório de Música de Coimbra
Associação Grémio das Músicas - Faro

Direcção Artística: Carlos Martins
Produção Executiva: Luís Hilário
Director Artístico do São Luiz: José Luís Ferreira