JazzLogical 3 Dezembro de 2024


Esta semana decorre a Festa do Jazz entre o CCB e o Picadeiro do Museu dos Coches, Egberto Gismonti regressa a Portugal (Espinho) ao fim de muito tempo, o Eixo do Jazz abriu um novo espaço em Famalicão, o quarteto Sissoko - Segal - Parisien - Peirani toca na Gulbenkian, e Aurora Nealand e outros toca na Porta-Jazz.


A Festa do Jazz conclui o ano Jazz, como tem vindo a acontecer, em Dezembro.

A Festa do Jazz é importante por várias razões, entre elas o encontro de escolas de Jazz de todo o país, mas inclui também três dias de concertos e jam sessions. Os concertos decorrem no CCB e as jam sessions na Casa do Comum, ao Bairro Alto. A programação tem este ano a co-curadoria de Mariana Dionísio e João Barradas.

Fiel ao espírito que Carlos Martins tem imprimido ao festival, uma boa parte dos concertos terão uma marca híbrido-fusão-etno. É o caso dos Sarab, «uma mistura única de música árabe, jazz e rock», os Jazzopa, «um laboratório criativo que junta a Spoken Word, o Hip-Hop e o Jazz, numa linguagem socialmente consciente», o Wajdi Riahi Trio, «ritmos (do Norte) de África, que se fundem com o complexo e denso tecido do Jazz», os Sonic Tender, «uma fusão de vozes (e respectivos timbres) numa única unidade (multi-camadas)», Savina Yannatou & Joana Sá, «imaginário sonoro … tão estranho quanto encantatório», Reperio, «projeto do vibrafonista Duarte Ventura … de continuidade do passado e com os olhos no futuro», e o Ensemble Festa do Jazz, liderado pelo compositor João Mortágua, com composições dos vários elementos do sexteto.

Como pouco conheço dos projectos, e o programa me parece aliciante, o meu conselho é deslocarem-se ao CCB e fazerem o vosso próprio juízo. Para os menos corajosos, o encontro de Andy Sheppard com Aaron Parks, no sábado à noite, é um concerto sem risco, de aplauso certo. Este concerto será antecedido do «novo e vibrante trio de Jazz», da pianista Liv Andrea Hauge.

Last but not least, insisto, não apenas as jam sessions no Casa do Comum nas noites de sexta a domingo, mas fundamental é o encontro de escolas no Picadeiro do Museu dos Coches nas tardes de sábado e domingo, de entrada livre.

As escolas a concurso são: ESMAE (Porto), Conservatório da Madeira, JAM Jazz Academy of Music, Escola de Jazz do Barreiro, Conservatório de Música de Coimbra, Escola de Artes Performativas da Jobra, Universidade de Évora, Universidade Lusíada, Conservatório Nacional, Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal e Escola Superior de Música de Lisboa.

Festa do Jazz
8 a 10 de Dezembro
CCB, Antigo Picadeiro do Museu dos Coches e Casa do Comum


Houve tempo em que Egberto Gismonti vinha a Portugal cinco ou seis vezes num ano, e agora temos saudades. Gismonti não é um guitarrista de Jazz, mas ele namorou o Jazz e são históricas as colaborações com Charlie Haden e Jan Garbarek. Multiinstrumentista, virtuoso da guitarra de 12 cordas, ele é um discípulo da singular escola de guitarra brasileira, mas toca de igual forma piano e outros instrumentos.

Auditório de Espinho, 3 de Dezembro, 21.30  


Há muito esgotado o concerto de Sissoko - Segal - Parisien - Peirani, «Les Égarés», junta quatro instrumentos menos vulgares e tem como protagonistas o tocador de kora natural do Mali Ballaké Sissoko, com o violoncelista Vincent Segal, o  acordeonista Vincent Peirani e o ilustre improvisador gaulês Émile Parisien.

Etno-jazz, talvez, o grupo é um sucesso, e o concerto esgotou ainda antes da bilheteira abrir, há largos meses. Fica o registo.

Fundação Gulbenkian, grande auditório, sábado 7.


O Eixo do Jazz Luso-Galaico inaugurou na semana assada um novo espaço em Famalicão, e tem actividade programada ao longo do mês.

Esta semana, toca o Quarteto de Mário Barreiros, com uma formação de luxo: Mário Barreiros, José Pedro Coelho, Abe Rábade e Carlos Barretto.

A maior fortuna para o novo espaço são os nossos votos!

Quarteto de Mário Barreiros, Espaço Eixo Atelier Cultural, Famalicão, sábado 7, 18.30


Saxofonista e cantora, Aurora Nealand toca na Porta-Jazz este sábado, com os seus companheiros Declan Forde e James Banner, e ainda o baterista João Lopes Pereira.

Como sempre em dois sets, às 19.00 e 21.30.

Aurora Nealand/ Declan Forde/ James Banner/ João Lopes Pereira, Espaço Porta-Jazz, sábado 7.


Outros concertos no Távola Bar, Maus Hábitos e outros que encontra na Agenda Jazz

 

E enfim, aproxima-se o Natal, e eu vou começar a trazer até vós algumas sugestões de prendinhas. Até porque algumas não serão fáceis de encontrar por aí, e desta forma vocês poderão encomendar pela internet, ou nalguma loja ou livraria mais especializada.

A minha sugestão da semana é O Jazz en Paris, uma graphic novel onde se conta a históra de amor entre Miles Davis e Juliette Gréco. A edição que eu adquiri é espanhola, mas o original é francês (como nome de Miles et Juliette).

Enfim, reabri O Gato Escarninho, que andava adormecido desde o início do ano, e já lá coloquei mais algumas coisinhas, que também podem servir de prenda.

Ida e volta duma caixa de cigarros, quatro histórias de mulheres de Maria Archer, que eu recomendo vivamente (literatura).

Escuta, formosa Márcia, uma obra-prima de Marcelo Quintanilha, um dos grandes desenhadores de BD brasileiros.

Está tudo isto e mais em O gato escarninho

E finalmente, e porque não somos todos parvos, aqui vos deixo mais um link a propósito da tal caixa de pandora que andamos todos à procura, e que vocês podem ler a seguir.

O link é um post do facebook de Raquel Varela.

A caixa de Pandora e como fabricá-la

Tenho andado zangado, tenho andado muito zangado. O motivo, adivinham, são as notícias que têm andado a correr por aí sobre o assédio, as violações, e não sei que mais no mundo do Jazz, e de como uma acusação teria aberto uma «caixa de Pandora» no Jazz.

De repente descubro que o mundo do Jazz que eu conheço há mais de 50 anos e que eu pensava que era um mundo de virtudes, é afinal um abismo de abusadores, e eu fiquei estupefacto, sem saber o que fazer. O que fazer?, sim, o que fazer? Tenho andado a matutar, e não consigo decidir-me!

A primeira atitude possível seria não fazer nada. Não fazer nada - o deixa correr e logo se vê - é compreensível para todos, para os abusadores e para os não abusadores, mas corre o risco de ser considerado silêncio cúmplice.

A segunda é fazer um comunicado sonso. Um comunicado sonso, do tipo há por aí uns malandros, ó lá se há, é eficaz. Tem variantes entre fazer pendant com a maioria sonante no momento e bater mais no ceguinho, o eu não tenho nada a ver com isso mas tou solidário e o eu até sou amigo duma gaja que foi perseguida e outra que viu e ainda as minha amigas são todas do metoo (o metoo tá na moda e é fixe).
É manhoso, e tem que ser bem feito para ser convincente, mas é realmente eficaz e tem a virtude de afastar logo suspeitas.

A terceira é parente da anterior: é do tipo filho-da-puta. O fdp é o oportunista que tem uma agenda, quer-se promover e aproveita a oportunidade. Cola-se ao que está na moda, cavalga a crista da onda, vai dizendo umas patacoadas grossas, desanca nos malandros e em tudo e todos de forma vaga, mas com convicção. Esta é brilhante, mas não é para todos.  

E ando nesta indecisão desde a semana passada.
As pessoas que me são queridas, e são muitas e ajuizadas, dizem-me para estar quieto, que é a primeira hipótese, de acordo com o ditado que diz que «o calado é o melhor», e que, por outro lado, o que eu disser pode ser utilizado contra mim: agarram uma frase, cortam ao meio, juntam pedaços de outra, dão um título bombástico à cacha e estás tramado. Vai dar chatices, com certeza.

E também sei que amanhã vou levar na cabeça dos meus amigos e conhecidos fora e dentro do Hot Club por ter posto mais achas na fogueira.
Eu sei, eu sei, o problema é que eu não sei estar calado mas, como diria o Francis Albert, «this is my way».

Mas antes quero dirigir-me a todos vós, os meus amigos e aos amantes do Jazz que me lêem para lhes dizer uma coisa: Tenham calma, porque vocês não são abusadores, violadores, assediadores ou pedófilos. E como eu, que ouço Jazz há mais de 50 anos e conheço muita gente, vocês não têm, nas vossas relações, abusadores.
Calma, muita calma, que o Jazz é a melhor música do mundo.

E sentem-se, que o texto é comprido.

Mas o que é que se passa afinal? (continua)



Sobre o mesmo tema, ainda, dois textos muito lúcidos, corajosos e elucidativos da Cristina Martins, no facebook, e do Ricardo Fortunato, publicado na Revista Minerva Universitária.
Porque não somos todos parvos.

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10162422541459684&id=517384683


Roy Haynes
1925 - 2024



Lou Donaldson
1926 - 2024


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Vários leitores têm-me comunicado a sua preocupação quanto ao meu estado de saúde, que agradeço.
Como alguns saberão, desde o início de Maio que dois acidentes provocaram a paragem da minha actividade normal, que apenas agora estou a retomar, lentamente.
Estes acidentes fizeram-me questionar o futuro de JazzLogical. Repensar mesmo se deverei continuar, ou o que é que devo alterar, em que moldes; tudo está em aberto.
Entretanto a Agenda Jazz não está actualizada, do que apresento as minhas desculpas
.

A Down Beat faz 90 anos e a edição do mês de Julho é dupla. Uma das revistas conta com uma série de artigos e entrevistas históricos imperdíveis, e a lista é longa: Louis Armstrong, Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Duke Ellington, John Coltrane, Melba Liston & Randy Weston, Sarah Vaughan, Thelonious Monk, Miles Davis, Michael Brecker e McCoy Tyner, Joni Mitchell, Lester Bowie e Greg Osby, Sonny Rollins, Toshiko Akiyoshi, Max Roach, Marian McPartland, Gunther Schuller, The Heath Brothers e mais!

A outra revista é dedicada ao futuro, aos nomes que se prenunciam. Na imagem da capa está um jovem que nós já vimos tocar: Immanuel Wilkins!

Mais 90 anos são os nossos votos para a Down Beat, se não for pedir muito!

Histórias de Jazz nos Media

e no Spotify

 

 

 


 

50 anos Cascais Jazz
O Cascais Jazz n'A Capital
O Cascais Jazz no República
O Cascais Jazz de 1971 em All Jazz n.º2, 2002
O Cascais Jazz no Diário de Lisboa
 

Os CDs:

 
 

Quotes

"Apparently it is bad for your career to say you are opposed to genocide. But F*ck it".
"I am opposed to genocide. I am opposed to apartheid. I am opposed to children having limbs amputated without anestheasia...
"

(“Aparentemente, é mau para a tua carreira dizer que te opões ao genocídio.
"Sou contra o genocídio. Sou contra o apartheid. Sou contra que as crianças tenham membros amputados sem anestesia...")

John Lurie


 

Conferência «As Mulheres e o Jazz», 7 de Dezembro 2018, ISCTE, Lisboa, Leonel Santos

Integrada na Conferência Internacional
«Mulheres, Mundos do Trabalho e Cidadania – Diferentes Olhares, Outras Perspetivas»,
ISCTE 6 e 7 de Dezembro 2018

 

Exposição «O Jazz na Banda Desenhada»

Hot Club de Portugal - 15 de Setembro 2021 - 31 de Março de 2022

 

E no Funchal Jazz, de 4 a 10 de Julho
Introdução
Autores e obras exibidos
Will Eisner
Siné
Cabu
Alcimar Frazão
Antonio Pamies
Robert Crumb
Harvey Pekar
JazzBanda
José Carlos Fernandes
Sualzo
Loustal & Paringaux
Gonzàlez & Altuna
Youssef Daoudi
Muñoz & Sampayo
Jose Muñoz
Guido Crepax
Sergio Toppi
BD Jazz

Esta exposição também pôde ser visitada no Auditório Municipal Augusto Cabrita - Barreiro de 30 de Abril a 31 de Julho
de 2022
  Curadoria de Leonel Santos
 

 

O gato escarninho

 

O Jazz nos livros em Portugal

         
         

 

 

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